quarta-feira, 15 de julho de 2015

A EVOLUÇÃO DA SUBSTÂNCIA



É óbvio que em palestras como estas seria impossível tratar, adequadamente, deste assunto assombroso, mesmo que eu estivesse aparelhada para dissertar sobre assunto tão fundamentalmente científico. Além disso, se as conclusões da ciência sobre a evolução da matéria estivessem definidas, o tópico a ser abordado mesmo assim seria vasto demais, porém elas não estão, e daí se originam as demais complexidades do assunto. Portanto, quero prefaciar meus comentários desta noite dizendo que meu objetivo é dirigir-me especialmente àqueles que não possuem nenhum treinamento científico e dar-lhes uma conceituação geral das ideias usualmente aceitas; vou procurar, então, oferecer algumas sugestões úteis para adaptar nossas mentes a este grande problema da matéria. Normalmente, ao se discutir o aspecto substância, da manifestação, ele tem sido considerado como algo à parte e só ultimamente foi que o que poderíamos chamar de "psicologia da matéria" começou a aparecer diante da mente do público através das investigações e conclusões dos cientistas de mente mais arejada.
 
 
Vocês se recordarão de que na semana anterior procurei demonstrar, de maneira ampla e geral, que havia três modos de abordagem para o estudo do universo material. Há a linha que só leva em consideração o aspecto materialista, que somente se ocupa do que é visto, tangível e pode ser provado. Uma segunda linha é a do sobrenaturalismo, que reconhece não tanto o lado material das coisas como o que é considerado divino; ela trata do lado da vida e do aspecto espiritual, considerando a Vida como uma força estranha ao sistema solar e ao homem e considerando esta força como um grande Agente criativo, o qual cria e guia o universo objetivo e todavia situa-se fora dele. Estas duas linhas de pensamento são apoiadas pelo cientista francamente materialista, pelo cristão ortodoxo e pelo deísta de qualquer denominação.
 
 
Indiquei a seguir uma terceira linha de abordagem do problema, do conceito chamado idealístico. Ela reconhece a forma material, mas vê também a vida dentro dela e postula uma Consciência ou Inteligência que evolui por intermédio da forma exterior. Vocês perceberão que esta é a linha a que darei mais ênfase nestas palestras. Além do mais, nenhum orador pode dissociar-se inteiramente do seu próprio ponto de vista e nestas palestras determinei a mim mesma a tarefa de trabalhar segundo esta terceira linha porque, para mim, ela sintetiza as outras duas e acrescenta certos conceitos que produzem um todo coerente ao se fundir com as demais. Cabe a vocês decidir se este terceiro ponto de vista é lógico, razoável e claro.
 
 
O fato mais comum da vida, para nós, é o mundo material — aquele mundo que podemos ver e contatar por meio dos cinco sentidos, chamado pelos pensadores metafísicos de "não-ser" ou aquele que é objetivo para cada um de nós. Como todos sabemos, o trabalho do químico é reduzir todas as substâncias conhecidas a seus elementos mais simples, e há não muito tempo pensava-se que isto tinha sido satisfatoriamente alcançado. As conclusões dos químicos situaram o número dos elementos conhecidos entre setenta e oitenta. Cerca de vinte anos atrás, todavia, (em 1898) descobriu-se um novo elemento ao qual se deu o nome de Rádio, e esta descoberta revolucionou totalmente o pensamento mundial sobre a matéria e a substância. Se forem aos livros do século passado ou pesquisarem em dicionários antigos procurando a definição do átomo, por exemplo, encontrarão Newton sendo citado. Ele definiu o átomo como "uma partícula dura, indivisível e definitiva", algo incapaz de divisão posterior. Este era tido como o átomo último no universo e o cientista da era Vitoriana o chamava de "a pedra fundamental do universo"; eles achavam que haviam ido até onde era possível ir e que haviam descoberto o que havia por trás de toda manifestação e da própria objetividade. Quando, porém, o rádio e as outras substâncias radioativas foram descobertas, um aspecto inteiramente novo da situação teve que ser encarado. Tornou-se claro que o que era considerado a última partícula não o era, de modo algum. Agora a definição do átomo que temos é: (estou citando o Standard Dictionary):
 
 
"Um átomo é um centro de força, uma fase dos fenómenos elétricos, um centro de energia ativo por meio de sua própria composição interna e desprendendo energia ou calor ou radiação".
 
 
Portanto, um átomo é (como Lord Kelvin em 1867 pensou que seria em última análise) um "anel de vórtice", ou centro de força, e não uma partícula do que compreendemos como substância tangível. Esta partícula final de matéria, está provado agora, se compõe de um núcleo positivo de energia, cercado — tal como o sol pelos planetas — por muitos elétrons ou corpúsculos negativos, desse modo subdividindo o átomo da ciência primitiva em numerosos corpos menores. Os elementos diferem de acordo com o número e ordenação destes elétrons negativos em volta de seu núcleo positivo e eles giram ou movem-se em torno desta carga central de eletricidade, do mesmo modo que nosso sistema planetário gira ao redor do sol. O professor Soddy, em um dos seus últimos livros, mostrou que se pode ver um sistema solar inteiro no átomo — o sol central pode ser reconhecido, com os planetas seguindo suas órbitas em volta dele.
 
 
Deveria ser claro para cada um de nós que quando se analisa esta definição do átomo, um conceito inteiramente novo de substância se descortina diante de nós. As asserções dogmáticas estão, portanto, desorganizadas, porque ficou conscientizado que talvez a próxima descoberta possa revelar-nos o fato de que os próprios elétrons podem ser mundos dentro de mundos.
 
 
Uma especulação interessante segundo esta linha pode ser encontrada em um livro de um de nossos pensadores científicos, no qual ele sugere que poderíamos dividir e subdividir o elétron no que ele chama de "psicons", e assim sermos levados para reinos que não são atualmente considerados físicos. Isto pode ser só um sonho, porém o que estou procurando gravar na minha mente e na de vocês é que mal sabemos onde estamos em relação ao pensamento científico, não mais do que sabemos onde estamos nos mundos religioso e económico. Tudo está passando por um período de transição; a velha ordem está mudando; a maneira antiga de olhar as coisas está-se mostrando falsa e inadequada; as expressões antigas de pensamento parecem fúteis. Tudo que o homem culto pode fazer agora é guardar sua opinião, assegurar para si o que lhe parece verdadeiro, e empenhar-se então para sintetizar aquele particular aspecto da verdade universal com aquele aspecto já aceito por seu irmão.
 
 
Pode-se afirmar, assim, que o átomo se decompõe em elétrons e pode expressar-se em termos de força ou energia. Quando temos um centro de energia ou atividade, envolvemo-nos num conceito duplo; temos aquilo que é a causa do movimento ou energia e aquilo que entra em atividade ou atua. Isto nos leva diretamente ao campo da psicologia, porque a energia ou força sempre é considerada como uma qualidade, e onde temos uma qualidade, estamos realmente considerando o campo de fenómenos psíquicos.
 
 
Há certos termos em uso para denominar a substância, que se evidenciam continuamente e sobre os quais há uma ampla diversidade de definição. Ao examinar um livro científico, recentemente, foi desencorajador encontrar o autor tentando mostrar que o átomo do químico, do físico, do matemático e do metafísico eram quatro coisas totalmente diversas. Esta é outra razão porque não se pode ser dogmático ao lidar com estes assuntos. Todavia, certo ou errado, tenho uma hipótese muito definida para apresentar-lhes. Quando falamos sobre o rádio estamos, provavelmente, nos aventurando no reino da substância etérica, a região do éter ou do protil.
 
 
Protil é uma palavra criada por Sir William Crookes e definida por ele como se segue:
 
 
"Protil é uma palavra análoga ao Protoplasma, para exprimir a ideia da matéria primitiva original, antes da evolução dos elementos químicos. A palavra que me atrevi a usar para este fim compõe-se de uma palavra grega "anterior a" e "a matéria da qual as coisas são feitas."
 
 
Estamos, portanto, fazendo o conceito da matéria recuar até onde a Escola Oriental sempre a colocou, até a substância primordial, à qual o orientalista chama de "éter primordial", embora devamos sempre lembrar que o éter da ciência está há muitos e muitos passos do éter primordial do ocultista oriental. Somos levados de volta àquele algo intangível que é a base da coisa objetiva que podemos ver, tocar e manipular. A própria palavra "substância" significa "aquilo que permanece sob" ou que jaz por trás das coisas Portanto, tudo que podemos afirmar em relação ao éter do espaço é que é o meio onde a energia ou força funciona, ou se faz sentir. Quando estivermos, nestas palestras, falando de energia e força, e de matéria e substância, podemos separá-las em nossas mentes assim: Quando falamos sobre energia e substância, estamos considerando o que ainda é intangível, e usamos força em relação à matéria, quando lidamos com aquele aspecto do objetivo que nossos cientistas estão definitivamente estudando. A substância é o éter em um de seus muitos graus e o que jaz por trás da própria matéria.
 
 
Quando falamos de energia, deve ser aquela que dá energia, a que é a origem daquela força que se demonstra na matéria. É aqui que procuro pôr a ênfase. De onde vem esta energia, e o que é ela?
 
 
Os cientistas estão reconhecendo, cada vez mais claramente, que o átomo possui qualidades, e seria interessante se tomássemos dos diferentes livros científicos que lidam com o assunto da matéria atômica e anotássemos quais dos inúmeros e variados termos poderiam ser também aplicados a um ser humano. Já tentei isto em pequena escala e achei muito elucidativo.
 
 
Antes de tudo, como sabemos, diz-se que o átomo possui energia e o poder de mudar de um modo de atividade para outro. Um escritor observou que "a inteligência absoluta vibra através de cada átomo do mundo". A propósito, quero mostrar-lhes o que Edison declarou a um repórter no Harper's Magazine de Fevereiro de 1890, o que foi ampliado no Scientific American de Outubro de 1920. No exemplo anterior ele é citado como se segue:
 
 
"Não acredito que a matéria seja inerte, ativada por uma força externa. Parece-me que cada átomo possui uma certa quantidade de inteligência primitiva". "Observem os milhares de modos pelos quais os átomos de hidrogénio se combinam com os dos outros elementos, formando as mais variadas substâncias. Pretendem dizer que eles fazem isto sem inteligência? Os átomos em relação harmoniosa e útil assumem formas e cores belas interessantes ou exalam um perfume agradável, como se exprimissem sua satisfação. .. . unidos em certas formas, os átomos constituem animais de ordem inferior. Finalmente eles se combinam no homem, que representa a inteligência total de todos os átomos".
 
 
"Mas de onde se origina esta inteligência?" perguntou o repórter.
 
 
"De alguma força maior do que nós", Edison respondeu.
 
 
"Então o senhor acredita num Criador inteligente, num Deus pessoal?
 
 
"Certamente. A existência de tal Deus, em minha opinião, pode ser provada pela química".
 
 
Na longa entrevista citada no Scientific American, Edison propôs um número de suposições muito interessantes das quais selecionei as seguintes:
 
 
1. A vida, como a matéria, é indestrutível.
 
 
2. Nossos corpos são compostos de miríades de entidades infinitesimais, cada uma sendo uma unidade de vida; do mesmo modo que o átomo compõe-se de miríades de elétrons.
 
 
3. O ser humano atua mais como um conjunto do que uma unidade; corpo e mente exprimem o voto ou voz das entidades de vida.
 
 
4. As entidades de vida constróem de acordo com um plano. Se uma parte da vida do organismo for mutilada, elas se reconstroem exatamente como antes. . .
 
 
5. A ciência admite a dificuldade de traçar a linha entre o inanimado e o animado: talvez as entidades de vida estendam suas atividades aos cristais e às substâncias químicas. . .
 
 
6. As entidades vitais vivem para sempre de modo que, até este ponto, pelo menos, a vida eterna pela qual ansiamos é uma realidade.
 
 
Em um discurso proferido por Sir Clifford Allbut, Presidente da Associação Médica Britânica, tal como relatado no Literary Digest de 26 de fevereiro de 1921, ele faia da habilidade do micróbio em selecionar e rejeitar, e no desenrolar de suas observações ele diz:
 
 
"Quando o micróbio se encontra no corpo do seu hospedeiro ele pode estar completamente em desacordo ou em completo acordo com algumas ou todas as células das quais se aproxima; em qualquer dos casos nada mórbido presumivelmente acontece. . . os acontecimentos mórbidos encontrar-se-iam entre este micróbio e as células corporais dentro de seu alcance, mas não afinadas com ele. Atualmente parece haver razão para supor que um micróbio, ao aproximar-se de uma célula corporal fora de seu alcance, possa tentar várias maneiras de conseguir se prender. Se conseguir, o micróbio, a princípio inócuo, tornar-se-ia nocivo. Assim, por outro lado, as células corporais podem disciplinar-se para vibrar em harmonia com um micróbio antes dissonante; ou poderá haver adaptação e intercâmbio mútuos....................................
 
 
"Se, porém, as coisas são assim, estamos diante de uma faculdade maravilhosa e de alto alcance, a faculdade de seleção, e esta elevando-se desde a base absoluta da biologia até o ápice — faculdade formativa — "auto-determinação" ou, se preferirem, "mente".
 
 
Em 1895, Sir William Crookes, um dos nossos maiores cientistas, proferiu uma interessante palestra para um grupo de químicos na Grã-Bretanha, onde falou sobre a habilidade do átomo para escolher seu próprio caminho, rejeitar e selecionar, e mostrou que a seleção natural pode ser encontrada em todas as formas de vida, do então átomo final, para cima, passando por todas as formas da existência.
 
 
Em outro artigo científico, o átomo é posteriormente considerado como possuindo também sensações:
 
 
"A recente controvérsia quanto à natureza dos átomos, que devemos considerar de alguma maneira como os fatores finais, em todos os processos físicos ou químicos, parece encontrar a mais fácil solução pela concepção de que essas minúsculas massas possuem — como centros de força — uma alma persistente, e que cada átomo tem sensações e poder de movimento".
 
 
Tyndall mostrou também que até os próprios átomos parecem ser "instinto com desejo de vida".
 
 
Se vocês tomarem estas qualidades diversas do átomo — energia, inteligência, habilidade de selecionar e rejeitar, de atrair e repelir, sensação, movimento e desejo —, vocês terão algo muito parecido com a psicologia de um ser humano, somente dentro de um raio mais limitado e de um grau mais circunscrito. Portanto, não voltamos ao que poderia ser chamado de "psique do átomo?" Descobrimos que o átomo é uma entidade viva, um mundozinho vibrante, e que dentro de sua esfera de influência outras pequenas vidas devem ser encontradas e isto exatamente no mesmo sentido que cada um de nós é uma entidade, ou núcleo positivo de força, ou vida, conservando dentro de nossa esfera de influência outras vidas menores, isto é, as células e nosso corpo. O que se pode dizer de nós, pode-se dizer, na devida proporção, do átomo.
 
 
Estendamos nossa ideia do átomo um pouco mais e abordemos o que pode ser fundamentalmente a causa e conter a solução dos problemas mundiais. Este conceito do átomo como uma demonstração positiva de energia, conservando dentro do alcance de sua atividade seu oposto polar, pode estender-se não só para cada tipo de átomo, mas também para um ser humano. Podemos considerar cada unidade da família humana como um átomo humano, porque no homem temos simplesmente um átomo maior. Ele é um centro de força positiva, conservando dentro da periferia de sua esfera de influência as células de seu corpo: ele mostra discriminação, inteligência e energia. Esta diferença existe, mas só em grau. Ele possui uma consciência mais ampla e vibra numa medida maior do que o pequeno átomo do químico.
 
 
Poderíamos estender a ideia ainda mais e considerar um planeta como um átomo. Talvez haja, dentro do planeta, uma vida que sustente a substância da esfera e todas as formas de vida para si como um todo coeso, e que tenha um âmbito de influência específico Isto pode soar como uma especulação ousada, contudo, julgando por analogia, talvez possa haver dentro da esfera planetária uma Entidade cuja consciência esteja tão distante da do homem quanto a consciência do homem está do átomo da química.
 
 
Este pensamento pode ainda ser levado mais adiante, até incluir o átomo do sistema solar. Lá, no coração do sistema solar, o sol, temos o centro positivo de energia, sustentando os planetas dentro de sua esfera de influência. Se dentro do átomo temos inteligência; se no ser humano temos inteligência; se dentro do planeta temos uma Inteligência controlando todas as suas funções, não será lógico estender a ideia e afirmar uma Inteligência ainda maior por trás daquele átomo maior, o sistema solar?
 
 
Isto nos leva, finalmente, ao ponto de vista que o mundo religioso sempre sustentou, aquele da existência de um Deus, um Ser Divino. Onde o cristão ortodoxo diria com reverência, Deus, o cientista com igual referência diria, Energia; contudo, ambos queriam dizer o mesmo. Onde o professor idealista falasse do "Deus-interior" da forma humana, outros, com igual precisão falariam da "faculdade energisante" do homem, a qual o leva a uma atividade de natureza física, emocional e mental. Em toda parte encontram-se centros de força e a ideia pode ser estendida de um centro de força tal como um átomo químico, para diante e para cima, através dos mais variados degraus e grupos de tais centros inteligentes, até o homem, e daí até a Vida que está se manifestando através do sistema. Assim se demonstra um Todo maravilhoso e sintético. São Paulo pôde ter tido algo disso em mente, quando falou sobre o Homem Celestial. Pelo "corpo de Cristo" ele certamente quer dizer todas aquelas unidades da família humana que se sustentam dentro de Sua esfera de influência, e que constituem Seu corpo como o agregado das células físicas forma o corpo físico do homem. O que é necessário nestes dias de sublevação religiosa é que estas verdades fundamentais do Cristianismo sejam demonstradas como verdades científicas. Precisamos tornar a religião científica.
 
 
Há um escrito sânscrito muito interessante, que data de há milhares de anos, que me aventuro a citar aqui. Ele diz:
 
 
"Cada forma da terra e cada ponto (átomo) do espaço, empenha-se, em seus esforços, para a auto-formação e em seguir o modelo estabelecido para ele no Homem Celestial. A involução e a evolução do átomo .......... têm um só e o mesmo objetivo: o Homem".
 
 
Vocês percebem que grande esperança, com este conceito, se abre diante de nós? Não um átomo de matéria, mostrando inteligência latente, discriminação e poder seletivo, mas, no curso das eras, alcançará aquela etapa mais adiantada de consciência que chamamos de humana. Certamente, então, o átomo humano deverá igualmente progredir até algo mais amplamente consciente, e finalmente alcançar a etapa de desenvolvimento daquelas grandes Entidades cujos corpos são átomos planetários; e para Elas, também, o que há? A conquista daquela etapa de completa consciência a que chamamos de Deus, ou Logos Solar. Certamente este ensinamento é lógico e prático. A velha injunção oculta que dizia ao homem "Conhece-te a ti mesmo, pois, é em ti que será encontrado tudo o que há para ser conhecido" é ainda a regra para o estudante sábio. Se cada um de nós nos considerássemos cientificamente como centros de força sustentando a matéria de nossos corpos dentro de nosso raio de controle e, desse modo, trabalhando neles e através deles, teríamos uma hipótese pela qual todo o esquema cósmico poderia ser interpretado. Se, como Einstein sugere, nosso sistema solar não passa de uma esfera, dá-se maior força à dedução de que ele, por sua vez, pode ser um átomo cósmico; teríamos assim um lugar dentro de um esquema ainda maior, e teríamos um centro em torno do qual nosso sistema gira e no qual ele é como o elétron para o átomo. Nossos astrónomos nos dizem que todo o nosso sistema provavelmente gira ao redor de um ponto central no céu.
 
 
Desse modo, a ideia básica a que tenho procurado dar ênfase pode ser delineada em toda sua extensão, através do átomo do químico e do físico, através do homem, através da Vida ativadora de um planeta, até o Logos, a divindade do nosso sistema solar, a Inteligência ou Vida que existe por trás de toda manifestação ou a natureza, e assim até algum esquema ainda maior no qual até nosso Deus tenha que desempenhar Seu papel e encontrar Seu lugar. Se for verdadeiro, é um quadro maravilhoso.
 
 
Esta noite não posso ocupar-me com os diferentes graus de desenvolvimento desta inteligência que anima todos os átomos, porém gostaria, por alguns momentos, de dedicar-me ao que talvez seja o método de sua evolução, do ponto de vista humano (que nos diz respeito mais de perto), lembrando sempre que o que é verdadeiro em um átomo deve ser também em maior ou menor proporção em tudo.
 
 
Ao considerar de maneira ampla os átomos do sistema solar, inclusive o próprio sistema, há duas coisas que devem ser levadas em consideração: a primeira ó a vida intensa e a atividade do próprio átomo e sua energia atómica interna; e a segunda é a sua interação com outros átomos — repelindo alguns e atraindo outros. Talvez, então, partindo destes fatos, possamos deduzir que o método de evolução para cada átomo seja devido a duas causas: a vida interna do próprio átomo e sua interação ou relação com outros átomos. Estas duas etapas são aparentes na evolução do átomo humano. A primeira foi acentuada por Cristo quando Ele disse: "O reino de Deus está dentro de vós", desse modo indicando a todos os átomos humanos o caminho para o centro de vida ou energia dentro deles próprios e ensinando-lhes que deste centro, e através dele, eles poderiam expandir-se e crescer. Cada um de nós está consciente de estar centralizado dentro de si mesmo; cada um considera tudo de seu próprio ponto de vista e os acontecimento exteriores são particularmente interessantes na proporção que dizem respeito a nós mesmos. Nós nos ocupamos com as coisas à medida que elas nos afetam pessoalmente, e tudo que acontece aos outros num certo estágio de nossa evolução só é importante porque também nos diz respeito. Este é o estágio atual de muitas e é a característica da maioria; é o período de intenso individualismo no qual o conceito do "Eu" é de suprema importância. Ele envolve muita atividade interna.
 
 
O segundo estágio de desenvolvimento do átomo é através de sua interação com todos os demais, e isto é algo que só agora está começando a despontar na inteligência humana, e a assumir sua merecida importância. Estamos só começando a compreender o significado relativo da competição e da cooperação, e no limiar da conscientização de que não podemos viver nossas vidas egoisticamente e separados do grupo ao qual pertencemos; estamos começando a aprender que se nosso irmão está contido sem fazer progresso e se os outros átomos humanos não estão vibrando como deveriam, cada átomo no corpo do grupo é afetado. Nenhum de nós estará completo até que todas as outras unidades tenham alcançado seu desenvolvimento completo e pleno.
 
 
Na próxima semana ampliarei um pouco este tópico, ao abordar o tema da construção da forma. Ao concluir a palestra desta noite, desejo tão somente trazer à consciência de todos uma apreciação do lugar que cada um de nós possui no esquema geral, e habilitar-nos a conscientizar a importância da interação que existe entre todos os átomos. Desejo mostrar a necessidade de encontrar nosso lugar no grupo a que naturalmente pertencemos (no qual somos como os elétrons para o pólo positivo), para daí prosseguirmos em nosso trabalho dentro de um átomo maior, o grupo.
 
 
Isto faz de toda a hipótese não só um sonho ousado, mas um ideal praticamente útil. Se for verdade que todas as células de nossos corpos, por exemplo, são os elétrons que mantemos juntos, coesos, e se somos o fator ativador de energia dentro da forma material, é de suma importância que reconheçamos este fato e que nos ocupemos correta e cientificamente com estas formas e seus átomos. Isto inclui o cuidado prático com o corpo físico e a adaptação sensata de toda nossa energia ao trabalho a ser feito e à natureza de nosso objetivo; torna necessária a utilização prudente daquele agregado de células que é nosso instrumento, ou ferramenta, e nossa esfera de manifestação. Isto é algo do qual ainda sabemos pouco. Quando este pensamento estiver desenvolvido e o ser humano for reconhecido como um centro de força, a atitude das pessoas em relação ao seu trabalho e modo de vida será fundamentalmente alterada. O ponto de vista do mundo médico, por exemplo, será modificado e as pessoas estudarão os métodos corretos de utilização de energia. A doença pela ignorância não mais existirá e os métodos de transmissão de força serão estudados e seguidos. Seremos, então, átomos verdadeiramente inteligentes — uma coisa que ainda não somos.
 
 
Além do mais, seremos não somente práticos na utilização de nossos corpos materiais, porque entendemos sua constituição, mas encontraremos conscientemente nosso lugar no grupo e dirigiremos nossa energia para o benefício do grupo e não, como agora, para o favorecimento de nossos próprios fins. Muitos átomos têm, não só uma vida própria interna, mas também irradiam, e, à medida que a radioatividade for gradualmente compreendida, o estudo do homem como um centro de radiação ativa tomar-se-á realidade também. Nos dias de hoje estamos no limiar de descobertas maravilhosas; estamos nos aproximando de uma síntese maravilhosa do pensamento mundial; estamos avançando para o período em que ciência e religião ajudar-se-ão mutualmente e quando a filosofia adicionará sua quota à compreensão da verdade.
 
 
O uso da imaginação abrirá, frequentemente, uma visão maravilhosa e se esta imaginação se basear nos fatores essenciais e começar com uma hipótese lógica, talvez nos leve à solução de alguns dos mistérios e problemas que estão atormentando o mundo agora. Se as coisas nos parecem misteriosas e inexplicáveis, não será devido àquela grande Entidade Que está-se manifestando através de nosso planeta e Que está elaborando um plano e propósito definidos, do mesmo modo como eu e você fazemos com nossas vidas. Às vezes levamos nosso veículo físico a situações, e criamos dificuldades dolorosas e aflitivas em relação a ele; assegurada a hipótese sobre a qual estamos trabalhando, será, portanto, lógico, supor que a grande Inteligência de nosso planeta do mesmo modo leva Seu corpo de manifestação (no qual se inclui a família humana) a situações que são aflitivas para os átomos. Certamente, será lógico supor que o mistério de tudo que vemos à nossa volta pode estar oculto na vontade e objetivo inteligente daquela Vida maior, Que trabalha por intermédio de nosso planeta como o homem trabalha por intermédio de seu corpo físico e, contudo, Que é Ele mesmo, não mais do que um átomo dentro de uma esfera ainda maior, a qual é habitada pelo Logos solar, a Inteligência Que é a soma total de todas as vidas inferiores.

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