É óbvio que em palestras como estas
seria impossível tratar, adequadamente, deste assunto assombroso, mesmo que eu
estivesse aparelhada para dissertar sobre assunto tão fundamentalmente
científico. Além disso, se as conclusões da ciência sobre a evolução da matéria
estivessem definidas, o tópico a ser abordado mesmo assim seria vasto demais,
porém elas não estão, e daí se originam as demais complexidades do assunto.
Portanto, quero prefaciar meus comentários desta noite dizendo que meu objetivo
é dirigir-me especialmente àqueles que não possuem nenhum treinamento
científico e dar-lhes uma conceituação geral das ideias usualmente aceitas; vou
procurar, então, oferecer algumas sugestões úteis para adaptar nossas mentes a
este grande problema da matéria. Normalmente, ao se discutir o aspecto
substância, da manifestação, ele tem sido considerado como algo à parte e só
ultimamente foi que o que poderíamos chamar de "psicologia da
matéria" começou a aparecer diante da mente do público através das
investigações e conclusões dos cientistas de mente mais arejada.
Vocês se recordarão de que na semana
anterior procurei demonstrar, de maneira ampla e geral, que havia três modos de
abordagem para o estudo do universo material. Há a linha que só leva em
consideração o aspecto materialista, que somente se ocupa do que é visto,
tangível e pode ser provado. Uma segunda linha é a do sobrenaturalismo, que
reconhece não tanto o lado material das coisas como o que é considerado divino;
ela trata do lado da vida e do aspecto espiritual, considerando a Vida como uma
força estranha ao sistema solar e ao homem e considerando esta força como um
grande Agente criativo, o qual cria e guia o universo objetivo e todavia
situa-se fora dele. Estas duas linhas de pensamento são apoiadas pelo cientista
francamente materialista, pelo cristão ortodoxo e pelo deísta de qualquer
denominação.
Indiquei a seguir uma terceira linha
de abordagem do problema, do conceito chamado idealístico. Ela reconhece a
forma material, mas vê também a vida dentro dela e postula uma Consciência ou
Inteligência que evolui por intermédio da forma exterior. Vocês perceberão que
esta é a linha a que darei mais ênfase nestas palestras. Além do mais, nenhum
orador pode dissociar-se inteiramente do seu próprio ponto de vista e nestas
palestras determinei a mim mesma a tarefa de trabalhar segundo esta terceira
linha porque, para mim, ela sintetiza as outras duas e acrescenta certos
conceitos que produzem um todo coerente ao se fundir com as demais. Cabe a
vocês decidir se este terceiro ponto de vista é lógico, razoável e claro.
O fato mais comum da vida, para nós,
é o mundo material — aquele mundo que podemos ver e contatar por meio dos cinco
sentidos, chamado pelos pensadores metafísicos de "não-ser" ou aquele
que é objetivo para cada um de nós. Como todos sabemos, o trabalho do químico é
reduzir todas as substâncias conhecidas a seus elementos mais simples, e há não
muito tempo pensava-se que isto tinha sido satisfatoriamente alcançado. As
conclusões dos químicos situaram o número dos elementos conhecidos entre
setenta e oitenta. Cerca de vinte anos atrás, todavia, (em 1898) descobriu-se
um novo elemento ao qual se deu o nome de Rádio, e esta descoberta revolucionou
totalmente o pensamento mundial sobre a matéria e a substância. Se forem aos
livros do século passado ou pesquisarem em dicionários antigos procurando a
definição do átomo, por exemplo, encontrarão Newton sendo citado. Ele definiu o
átomo como "uma partícula dura, indivisível e definitiva", algo
incapaz de divisão posterior. Este era tido como o átomo último no universo e o
cientista da era Vitoriana o chamava de "a pedra fundamental do
universo"; eles achavam que haviam ido até onde era possível ir e que
haviam descoberto o que havia por trás de toda manifestação e da própria
objetividade. Quando, porém, o rádio e as outras substâncias radioativas foram
descobertas, um aspecto inteiramente novo da situação teve que ser encarado.
Tornou-se claro que o que era considerado a última partícula não o era, de modo
algum. Agora a definição do átomo que temos é: (estou citando o Standard
Dictionary):
"Um átomo é um centro de força,
uma fase dos fenómenos elétricos, um centro de energia ativo por meio de sua
própria composição interna e desprendendo energia ou calor ou radiação".
Portanto, um átomo é (como Lord
Kelvin em 1867 pensou que seria em última análise) um "anel de
vórtice", ou centro de força, e não uma partícula do que compreendemos
como substância tangível. Esta partícula final de matéria, está provado agora,
se compõe de um núcleo positivo de energia, cercado — tal como o sol pelos
planetas — por muitos elétrons ou corpúsculos negativos, desse modo
subdividindo o átomo da ciência primitiva em numerosos corpos menores. Os
elementos diferem de acordo com o número e ordenação destes elétrons negativos
em volta de seu núcleo positivo e eles giram ou movem-se em torno desta carga
central de eletricidade, do mesmo modo que nosso sistema planetário gira ao
redor do sol. O professor Soddy, em um dos seus últimos livros, mostrou que se
pode ver um sistema solar inteiro no átomo — o sol central pode ser
reconhecido, com os planetas seguindo suas órbitas em volta dele.
Deveria ser claro para cada um de
nós que quando se analisa esta definição do átomo, um conceito inteiramente
novo de substância se descortina diante de nós. As asserções dogmáticas estão,
portanto, desorganizadas, porque ficou conscientizado que talvez a próxima
descoberta possa revelar-nos o fato de que os próprios elétrons podem ser
mundos dentro de mundos.
Uma especulação interessante segundo
esta linha pode ser encontrada em um livro de um de nossos pensadores
científicos, no qual ele sugere que poderíamos dividir e subdividir o elétron
no que ele chama de "psicons", e assim sermos levados para reinos que
não são atualmente considerados físicos. Isto pode ser só um sonho, porém o que
estou procurando gravar na minha mente e na de vocês é que mal sabemos onde
estamos em relação ao pensamento científico, não mais do que sabemos onde
estamos nos mundos religioso e económico. Tudo está passando por um período de
transição; a velha ordem está mudando; a maneira antiga de olhar as coisas
está-se mostrando falsa e inadequada; as expressões antigas de pensamento
parecem fúteis. Tudo que o homem culto pode fazer agora é guardar sua opinião,
assegurar para si o que lhe parece verdadeiro, e empenhar-se então para
sintetizar aquele particular aspecto da verdade universal com aquele aspecto já
aceito por seu irmão.
Pode-se afirmar, assim, que o átomo
se decompõe em elétrons e pode expressar-se em termos de força ou energia.
Quando temos um centro de energia ou atividade, envolvemo-nos num conceito
duplo; temos aquilo que é a causa do movimento ou energia e aquilo que entra em
atividade ou atua. Isto nos leva diretamente ao campo da psicologia, porque a
energia ou força sempre é considerada como uma qualidade, e onde temos uma
qualidade, estamos realmente considerando o campo de fenómenos psíquicos.
Há certos termos em uso para
denominar a substância, que se evidenciam continuamente e sobre os quais há uma
ampla diversidade de definição. Ao examinar um livro científico, recentemente,
foi desencorajador encontrar o autor tentando mostrar que o átomo do químico,
do físico, do matemático e do metafísico eram quatro coisas totalmente
diversas. Esta é outra razão porque não se pode ser dogmático ao lidar com
estes assuntos. Todavia, certo ou errado, tenho uma hipótese muito definida
para apresentar-lhes. Quando falamos sobre o rádio estamos, provavelmente, nos
aventurando no reino da substância etérica, a região do éter ou do protil.
Protil é uma palavra criada por Sir
William Crookes e definida por ele como se segue:
"Protil é uma palavra análoga
ao Protoplasma, para exprimir a ideia da matéria primitiva original, antes da
evolução dos elementos químicos. A palavra que me atrevi a usar para este fim
compõe-se de uma palavra grega "anterior a" e "a matéria da qual
as coisas são feitas."
Estamos, portanto, fazendo o
conceito da matéria recuar até onde a Escola Oriental sempre a colocou, até a
substância primordial, à qual o orientalista chama de "éter
primordial", embora devamos sempre lembrar que o éter da ciência está há
muitos e muitos passos do éter primordial do ocultista oriental. Somos levados
de volta àquele algo intangível que é a base da coisa objetiva que podemos ver,
tocar e manipular. A própria palavra "substância" significa
"aquilo que permanece sob" ou que jaz por trás das coisas Portanto,
tudo que podemos afirmar em relação ao éter do espaço é que é o meio onde a
energia ou força funciona, ou se faz sentir. Quando estivermos, nestas
palestras, falando de energia e força, e de matéria e substância, podemos
separá-las em nossas mentes assim: Quando falamos sobre energia e substância,
estamos considerando o que ainda é intangível, e usamos força em relação à
matéria, quando lidamos com aquele aspecto do objetivo que nossos cientistas
estão definitivamente estudando. A substância é o éter em um de seus muitos
graus e o que jaz por trás da própria matéria.
Quando falamos de energia, deve ser
aquela que dá energia, a que é a origem daquela força que se demonstra na
matéria. É aqui que procuro pôr a ênfase. De onde vem esta energia, e o que é ela?
Os cientistas estão reconhecendo,
cada vez mais claramente, que o átomo possui qualidades, e seria interessante
se tomássemos dos diferentes livros científicos que lidam com o assunto da
matéria atômica e anotássemos quais dos inúmeros e variados termos poderiam ser
também aplicados a um ser humano. Já tentei isto em pequena escala e achei
muito elucidativo.
Antes de tudo, como sabemos, diz-se
que o átomo possui energia e o poder de mudar de um modo de atividade para
outro. Um escritor observou que "a inteligência absoluta vibra através de
cada átomo do mundo". A propósito, quero mostrar-lhes o que Edison
declarou a um repórter no Harper's
Magazine de Fevereiro de 1890, o que foi ampliado no Scientific American de Outubro de 1920. No exemplo anterior ele é
citado como se segue:
"Não acredito que a matéria
seja inerte, ativada por uma força externa. Parece-me que cada átomo possui uma
certa quantidade de inteligência primitiva". "Observem os milhares de
modos pelos quais os átomos de hidrogénio se combinam com os dos outros
elementos, formando as mais variadas substâncias. Pretendem dizer que eles
fazem isto sem inteligência? Os átomos em relação harmoniosa e útil assumem
formas e cores belas interessantes ou exalam um perfume agradável, como se
exprimissem sua satisfação. .. . unidos em certas formas, os átomos constituem
animais de ordem inferior. Finalmente eles se combinam no homem, que representa
a inteligência total de todos os átomos".
"Mas de onde se origina esta
inteligência?" perguntou o repórter.
"De alguma força maior do que
nós", Edison respondeu.
"Então o senhor acredita num
Criador inteligente, num Deus pessoal?
"Certamente. A existência de
tal Deus, em minha opinião, pode ser provada pela química".
Na longa entrevista citada no Scientific American, Edison propôs um
número de suposições muito interessantes das quais selecionei as seguintes:
1. A vida, como a matéria, é
indestrutível.
2. Nossos corpos são compostos de
miríades de entidades infinitesimais, cada uma sendo uma unidade de vida; do mesmo
modo que o átomo compõe-se de miríades de elétrons.
3. O ser humano atua mais como um
conjunto do que uma unidade; corpo e mente
exprimem o voto ou voz das entidades de vida.
4. As entidades de vida constróem de
acordo com um plano. Se uma parte da vida do organismo for mutilada, elas se
reconstroem exatamente como antes. . .
5. A ciência admite a dificuldade de
traçar a linha entre o inanimado e o animado: talvez as entidades de vida
estendam suas atividades aos cristais e às substâncias químicas. . .
6. As entidades vitais vivem para
sempre de modo que, até este ponto, pelo menos, a vida eterna pela qual
ansiamos é uma realidade.
Em um discurso proferido por Sir
Clifford Allbut, Presidente da Associação Médica Britânica, tal como relatado
no Literary Digest de 26 de fevereiro de 1921, ele faia da habilidade do
micróbio em selecionar e rejeitar, e no desenrolar de suas observações ele diz:
"Quando o micróbio se encontra
no corpo do seu hospedeiro ele pode estar completamente em desacordo ou em
completo acordo com algumas ou todas as células das quais se aproxima; em
qualquer dos casos nada mórbido presumivelmente acontece. . . os acontecimentos
mórbidos encontrar-se-iam entre este micróbio e as células corporais dentro de
seu alcance, mas não afinadas com ele. Atualmente parece haver razão para supor
que um micróbio, ao aproximar-se de uma célula corporal fora de seu alcance,
possa tentar várias maneiras de conseguir se prender. Se conseguir, o micróbio,
a princípio inócuo, tornar-se-ia nocivo. Assim, por outro lado, as células
corporais podem disciplinar-se para vibrar em harmonia com um micróbio antes
dissonante; ou poderá haver adaptação e intercâmbio
mútuos....................................
"Se, porém, as coisas são
assim, estamos diante de uma faculdade maravilhosa e de alto alcance, a
faculdade de seleção, e esta elevando-se desde a base absoluta da biologia até
o ápice — faculdade formativa — "auto-determinação" ou, se
preferirem, "mente".
Em 1895, Sir William Crookes, um dos
nossos maiores cientistas, proferiu uma interessante palestra para um grupo de
químicos na Grã-Bretanha, onde falou sobre a habilidade do átomo para escolher
seu próprio caminho, rejeitar e selecionar, e mostrou que a seleção natural
pode ser encontrada em todas as formas de vida, do então átomo final, para
cima, passando por todas as formas da existência.
Em outro artigo científico, o átomo
é posteriormente considerado como possuindo também sensações:
"A recente controvérsia quanto
à natureza dos átomos, que devemos considerar de alguma maneira como os fatores
finais, em todos os processos físicos ou químicos, parece encontrar a mais
fácil solução pela concepção de que essas minúsculas massas possuem — como
centros de força — uma alma persistente, e que cada átomo tem sensações e poder
de movimento".
Tyndall mostrou também que até os
próprios átomos parecem ser "instinto com desejo de vida".
Se vocês tomarem estas qualidades
diversas do átomo — energia, inteligência, habilidade de selecionar e rejeitar,
de atrair e repelir, sensação, movimento e desejo —, vocês terão algo muito
parecido com a psicologia de um ser humano, somente dentro de um raio mais
limitado e de um grau mais circunscrito. Portanto, não voltamos ao que poderia
ser chamado de "psique do átomo?" Descobrimos que o átomo é uma
entidade viva, um mundozinho vibrante, e que dentro de sua esfera de influência
outras pequenas vidas devem ser encontradas e isto exatamente no mesmo sentido
que cada um de nós é uma entidade, ou núcleo positivo de força, ou vida,
conservando dentro de nossa esfera de influência outras vidas menores, isto é,
as células e nosso corpo. O que se pode dizer de nós, pode-se dizer, na devida
proporção, do átomo.
Estendamos nossa ideia do átomo um
pouco mais e abordemos o que pode ser fundamentalmente a causa e conter a
solução dos problemas mundiais. Este conceito do átomo como uma demonstração
positiva de energia, conservando dentro do alcance de sua atividade seu oposto
polar, pode estender-se não só para cada tipo de átomo, mas também para um ser
humano. Podemos considerar cada unidade da família humana como um átomo humano,
porque no homem temos simplesmente um átomo maior. Ele é um centro de força
positiva, conservando dentro da periferia de sua esfera de influência as
células de seu corpo: ele mostra discriminação, inteligência e energia. Esta
diferença existe, mas só em grau. Ele possui uma consciência mais ampla e vibra
numa medida maior do que o pequeno átomo do químico.
Poderíamos estender a ideia ainda
mais e considerar um planeta como um átomo. Talvez haja, dentro do planeta, uma
vida que sustente a substância da esfera e todas as formas de vida para si como
um todo coeso, e que tenha um âmbito de influência específico Isto pode soar
como uma especulação ousada, contudo, julgando por analogia, talvez possa haver
dentro da esfera planetária uma Entidade cuja consciência esteja tão distante
da do homem quanto a consciência do homem está do átomo da química.
Este pensamento pode ainda ser
levado mais adiante, até incluir o átomo do sistema solar. Lá, no coração do
sistema solar, o sol, temos o centro positivo de energia, sustentando os
planetas dentro de sua esfera de influência. Se dentro do átomo temos
inteligência; se no ser humano temos inteligência; se dentro do planeta temos
uma Inteligência controlando todas as suas funções, não será lógico estender a
ideia e afirmar uma Inteligência ainda maior por trás daquele átomo maior, o
sistema solar?
Isto nos leva, finalmente, ao ponto
de vista que o mundo religioso sempre sustentou, aquele da existência de um
Deus, um Ser Divino. Onde o cristão ortodoxo diria com reverência, Deus, o
cientista com igual referência diria, Energia; contudo, ambos queriam dizer o
mesmo. Onde o professor idealista falasse do "Deus-interior" da forma
humana, outros, com igual precisão falariam da "faculdade
energisante" do homem, a qual o leva a uma atividade de natureza física,
emocional e mental. Em toda parte encontram-se centros de força e a ideia pode
ser estendida de um centro de força tal como um átomo químico, para diante e
para cima, através dos mais variados degraus e grupos de tais centros
inteligentes, até o homem, e daí até a Vida que está se manifestando através do
sistema. Assim se demonstra um Todo maravilhoso e sintético. São Paulo pôde ter
tido algo disso em mente, quando falou sobre o Homem Celestial. Pelo
"corpo de Cristo" ele certamente quer dizer todas aquelas unidades da
família humana que se sustentam dentro de Sua esfera de influência, e que
constituem Seu corpo como o agregado das células físicas forma o corpo físico
do homem. O que é necessário nestes dias de sublevação religiosa é que estas
verdades fundamentais do Cristianismo sejam demonstradas como verdades
científicas. Precisamos tornar a religião científica.
Há um escrito sânscrito muito interessante,
que data de há milhares de anos, que me aventuro a citar aqui. Ele diz:
"Cada forma da terra e cada
ponto (átomo) do espaço, empenha-se, em seus esforços, para a auto-formação e
em seguir o modelo estabelecido para ele no Homem Celestial. A involução e a
evolução do átomo .......... têm um só e o mesmo objetivo: o Homem".
Vocês percebem que grande esperança,
com este conceito, se abre diante de nós? Não um átomo de matéria, mostrando
inteligência latente, discriminação e poder seletivo, mas, no curso das eras,
alcançará aquela etapa mais adiantada de consciência que chamamos de humana.
Certamente, então, o átomo humano deverá igualmente progredir até algo mais
amplamente consciente, e finalmente alcançar a etapa de desenvolvimento
daquelas grandes Entidades cujos corpos são átomos planetários; e para Elas,
também, o que há? A conquista daquela etapa de completa consciência a que
chamamos de Deus, ou Logos Solar. Certamente este ensinamento é lógico e
prático. A velha injunção oculta que dizia ao homem "Conhece-te a ti
mesmo, pois, é em ti que será encontrado tudo o que há para ser conhecido"
é ainda a regra para o estudante sábio. Se cada um de nós nos considerássemos
cientificamente como centros de força sustentando a matéria de nossos corpos
dentro de nosso raio de controle e, desse modo, trabalhando neles e através
deles, teríamos uma hipótese pela qual todo o esquema cósmico poderia ser
interpretado. Se, como Einstein sugere, nosso sistema solar não passa de uma
esfera, dá-se maior força à dedução de que ele, por sua vez, pode ser um átomo
cósmico; teríamos assim um lugar dentro de um esquema ainda maior, e teríamos
um centro em torno do qual nosso sistema gira e no qual ele é como o elétron
para o átomo. Nossos astrónomos nos dizem que todo o nosso sistema
provavelmente gira ao redor de um ponto central no céu.
Desse modo, a ideia básica a que
tenho procurado dar ênfase pode ser delineada em toda sua extensão, através do
átomo do químico e do físico, através do homem, através da Vida ativadora de um
planeta, até o Logos, a divindade do nosso sistema solar, a Inteligência ou
Vida que existe por trás de toda manifestação ou a natureza, e assim até algum esquema ainda maior no qual até nosso
Deus tenha que desempenhar Seu papel e encontrar Seu lugar. Se for verdadeiro,
é um quadro maravilhoso.
Esta noite não posso ocupar-me com
os diferentes graus de desenvolvimento desta inteligência que anima todos os
átomos, porém gostaria, por alguns momentos, de dedicar-me ao que talvez seja o
método de sua evolução, do ponto de vista humano (que nos diz respeito mais de
perto), lembrando sempre que o que é verdadeiro em um átomo deve ser também em
maior ou menor proporção em tudo.
Ao considerar de maneira ampla os
átomos do sistema solar, inclusive o próprio sistema, há duas coisas que devem
ser levadas em consideração: a primeira ó a vida intensa e a atividade do
próprio átomo e sua energia atómica interna; e a segunda é a sua interação com
outros átomos — repelindo alguns e atraindo outros. Talvez, então, partindo destes
fatos, possamos deduzir que o método de evolução para cada átomo seja devido a
duas causas: a vida interna do próprio átomo e sua interação ou relação com
outros átomos. Estas duas etapas são aparentes na evolução do átomo humano. A
primeira foi acentuada por Cristo quando Ele disse: "O reino de Deus está
dentro de vós", desse modo indicando a todos os átomos humanos o caminho
para o centro de vida ou energia dentro deles próprios e ensinando-lhes que
deste centro, e através dele, eles poderiam expandir-se e crescer. Cada um de
nós está consciente de estar centralizado dentro de si mesmo; cada um considera
tudo de seu próprio ponto de vista e os acontecimento exteriores são
particularmente interessantes na proporção que dizem respeito a nós mesmos. Nós
nos ocupamos com as coisas à medida que elas nos afetam pessoalmente, e tudo
que acontece aos outros num certo estágio de nossa evolução só é importante
porque também nos diz respeito. Este é o estágio atual de muitas e é a
característica da maioria; é o período de intenso individualismo no qual o
conceito do "Eu" é de suprema importância. Ele envolve muita
atividade interna.
O segundo estágio de desenvolvimento
do átomo é através de sua interação com todos os demais, e isto é algo que só
agora está começando a despontar na inteligência humana, e a assumir sua
merecida importância. Estamos só começando a compreender o significado relativo
da competição e da cooperação, e no limiar da conscientização de que não
podemos viver nossas vidas egoisticamente e separados do grupo ao qual
pertencemos; estamos começando a aprender que se nosso irmão está contido sem
fazer progresso e se os outros átomos humanos não estão vibrando como deveriam,
cada átomo no corpo do grupo é afetado. Nenhum de nós estará completo até que
todas as outras unidades tenham alcançado seu desenvolvimento completo e pleno.
Na próxima semana ampliarei um pouco
este tópico, ao abordar o tema da construção da forma. Ao concluir a palestra
desta noite, desejo tão somente trazer à consciência de todos uma apreciação do
lugar que cada um de nós possui no esquema geral, e habilitar-nos a
conscientizar a importância da interação que existe entre todos os átomos.
Desejo mostrar a necessidade de encontrar nosso lugar no grupo a que
naturalmente pertencemos (no qual somos como os elétrons para o pólo positivo),
para daí prosseguirmos em nosso trabalho dentro de um átomo maior, o grupo.
Isto faz de toda a hipótese não só
um sonho ousado, mas um ideal praticamente útil. Se for verdade que todas as
células de nossos corpos, por exemplo, são os elétrons que mantemos juntos,
coesos, e se somos o fator ativador de energia dentro da forma material, é de
suma importância que reconheçamos este fato e que nos ocupemos correta e
cientificamente com estas formas e seus átomos. Isto inclui o cuidado prático
com o corpo físico e a adaptação sensata de toda nossa energia ao trabalho a
ser feito e à natureza de nosso objetivo; torna necessária a utilização
prudente daquele agregado de células que é nosso instrumento, ou ferramenta, e
nossa esfera de manifestação. Isto é algo do qual ainda sabemos pouco. Quando
este pensamento estiver desenvolvido e o ser humano for reconhecido como um
centro de força, a atitude das pessoas em relação ao seu trabalho e modo de
vida será fundamentalmente alterada. O ponto de vista do mundo médico, por
exemplo, será modificado e as pessoas estudarão os métodos corretos de
utilização de energia. A doença pela ignorância não mais existirá e os métodos
de transmissão de força serão estudados e seguidos. Seremos, então, átomos
verdadeiramente inteligentes — uma coisa que ainda não somos.
Além do mais, seremos não somente
práticos na utilização de nossos corpos materiais, porque entendemos sua
constituição, mas encontraremos conscientemente nosso lugar no grupo e
dirigiremos nossa energia para o benefício do grupo e não, como agora, para o favorecimento de nossos próprios
fins. Muitos átomos têm, não só uma vida própria interna, mas também irradiam,
e, à medida que a radioatividade for gradualmente compreendida, o estudo do
homem como um centro de radiação ativa tomar-se-á realidade também. Nos dias de
hoje estamos no limiar de descobertas maravilhosas; estamos nos aproximando de
uma síntese maravilhosa do pensamento mundial; estamos avançando para o período
em que ciência e religião ajudar-se-ão mutualmente e quando a filosofia
adicionará sua quota à compreensão da verdade.
O uso da imaginação abrirá,
frequentemente, uma visão maravilhosa e se esta imaginação se basear nos
fatores essenciais e começar com uma hipótese lógica, talvez nos leve à solução
de alguns dos mistérios e problemas que estão atormentando o mundo agora. Se as
coisas nos parecem misteriosas e inexplicáveis, não será devido àquela grande
Entidade Que está-se manifestando através de nosso planeta e Que está
elaborando um plano e propósito definidos, do mesmo modo como eu e você fazemos
com nossas vidas. Às vezes levamos nosso veículo físico a situações, e criamos
dificuldades dolorosas e aflitivas em relação a ele; assegurada a hipótese
sobre a qual estamos trabalhando, será, portanto, lógico, supor que a grande
Inteligência de nosso planeta do mesmo modo leva Seu corpo de manifestação (no
qual se inclui a família humana) a situações que são aflitivas para os átomos.
Certamente, será lógico supor que o mistério de tudo que vemos à nossa volta
pode estar oculto na vontade e objetivo inteligente daquela Vida maior, Que
trabalha por intermédio de nosso planeta como o homem trabalha por intermédio
de seu corpo físico e, contudo, Que é Ele mesmo, não mais do que um átomo
dentro de uma esfera ainda maior, a qual é habitada pelo Logos solar, a
Inteligência Que é a soma total de todas as vidas inferiores.
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