quarta-feira, 15 de julho de 2015

O CAMPO DA EVOLUÇÃO

 

Provavelmente nunca houve um período na história do pensamento semelhante ao atual. Em todos os lugares, os pensadores estão conscientes de duas coisas, primeiro, que a região do mistério nunca fora antes tão claramente definida e, segundo, que se pode penetrar naquela região mais facilmente do que tinha sido possível até agora; portanto, se os investigadores de todas as escolas prosseguirem em sua busca com determinação, talvez possam induzir a revelação de alguns de seus segredos. Os problemas que enfrentamos, à medida que estudamos os fatos conhecidos da vida e da existência, são suscetíveis de uma definição mais clara do que até agora possível e, embora não saibamos as respostas às nossas perguntas, embora não tenhamos descoberto as soluções de nossos problemas, embora não haja panaceia ao nosso alcance por meio da qual possamos remediar os males do mundo, contudo, o próprio fato de que podemos defini-los, de que podemos indicar a direção do mistério e que a luz da ciência, as religiões e da filosofia brilhou sobre amplas extensões que antes eram consideradas terras de trevas, é uma garantia de sucesso no futuro. Sabemos muito mais do que há quinhentos anos atrás, com exceção de alguns círculos de homens sábios e místicos; descobrimos muitas leis da natureza, embora não possamos ainda aplicá-las; e o conhecimento das 'coisas como elas são' (e eu escolho estas palavras deliberadamente) proporcionou um imenso progresso.

 
Todavia, a terra do mistério ainda precisa ser desvelada, e nossos problemas ainda são numerosos. Há o problema de nossa própria vida particular, qualquer que seja; há o problema do que é geralmente denominado "Não-Ser", e que diz respeito a nosso corpo físico, nosso meio-ambiente, nossas circunstâncias e nossas condições de vida; se estamos numa fase introspectiva de nossa mente, há o problema de nossas emoções, pensamentos, desejos e instintos pelos quais nós controlamos a ação. Há muitos problemas coletivos; por que deve haver sofrimento, fome e dor? Por que deve o mundo, de um modo geral, estar subjugado à pobreza, doença e desconforto? Qual o propósito que existe por trás de tudo que nos rodeia e qual será o resultado dos problemas mundiais, se os analisarmos como um todo? Qual o destino da raça humana, qual sua origem, e qual a chave para a sua condição atual? Haverá mais do que esta única vida e o único interesse deve ser encontrado naquilo que é aparente e material? Tais indagações passam por nossas mentes em várias ocasiões e passaram pelas mentes dos pensadores através dos séculos.


 
Houve muitas tentativas para responder a estas perguntas e, à medida que as estudamos, descobrimos que as respostas se encaixam em três grupos principais e que três soluções principais são oferecidas à consideração do homem. Estas três soluções são:

 

Primeira, o Realismo. Outro nome para esta escola é Materialismo. Ela ensina que "a representação do mundo externo que temos na consciência, é verdadeira"; que as coisas são o que elas parecem ser; que a matéria e a força, como nós as conhecemos, são a única realidade e que não é possível ao homem ir além do tangível. Ele deveria satisfazer-se com os fatos como ele os conhece, ou como a ciência lhe diz que são. Este é um método de solução perfeitamente legítima, porém, para alguns de nós, ele falha porque não vai bastante longe. Ao recusar-se a se interessar por qualquer coisa que não seja provada e demonstrada, ele pára no ponto em que o inquisidor diz "é assim, mas por quê?" Deixa fora de seus cálculos muito do que é conhecido e compreendido como verdade pelo homem comum, embora ele seja incapaz de explicar porque sabe que é verdade. Os homens em todas as partes reconhecem a exatidão dos fatos da escola realista e da ciência material e, contudo, ao mesmo tempo, eles sentem, em seu íntimo, que há, inerente à manifestação objetiva provada, alguma força vitalizadora e algum propósito coerente que não podem ser analisados somente em termos de matéria.

 

Segunda, há o ponto de vista ao qual melhor chamaríamos de sobrenaturalismo. O homem se conscientiza de que, talvez, afinal de contas, as coisas não sejam exatamente o que parecem ser e que muita coisa permanece sem explicação; ele desperta para a compreensão de que ele próprio não é simplesmente uma acumulação de átomos físicos, algo material, e um corpo tangível, mas que existe dentro dele, latente, uma consciência, uma força e uma natureza psíquica que o une a todos os demais membros da família humana, além de ligá-lo a uma força fora dele a qual ele precisa explicar. Foi isto que levou, por exemplo, à evolução do ponto de vista cristão e judeu, o . qual situa um Deus fora do sistema solar, Deus esse que o criou porém sendo, Ele próprio, estranho ao mesmo. Estes sistemas de pensamento ensinam que o mundo foi criado por uma Força ou Ser Que construiu o sistema solar e Que guia os mundos corretamente, conservando nossa ínfima vida humana na concha de Sua mão, e "docemente ordenando" todas as coisas de acordo com algum propósito oculto que não podemos discernir com nossas mentes finitas, quanto mais entender. Este é o ponto de vista religioso e sobrenatural, o qual se baseia na crescente autoconsciência do indivíduo e no reconhecimento de sua própria divindade. Do mesmo modo que a escola realista, ele inclui somente uma verdade parcial e precisa ser complementado.

 
A terceira linha de pensamento poderia ser chamada de Idealista. Ela postula um processo evolutivo dentro de toda manifestação e identifica a vida com o processo cósmico. É exatamente o oposto do materialismo, e traz a divindade sobrenatural predicada pelos religiosos, à posição de uma grande Entidade ou Vida, Que evolui através e por intermédio do universo, do mesmo modo que a consciência do homem está evoluindo através de um corpo físico objetivo.

 
Nestes três pontos de vista — o puramente materialista, o puramente sobrenatural e o idealista — vocês têm as três principais linhas de pensamento que foram formuladas como explicativas do processo cósmico; todas elas são verdades parciais, contudo nenhuma delas é completa sem as outras; todas elas, quando seguidas unilateralmente, levam a caminhos secundários e à treva, e deixam o mistério central insolúvel. Quando são sintetizadas, unidas e fundidas, elas talvez incluam (isto é apenas uma sugestão) tanto da verdade evolutiva quanto possível, à mente humana, alcançar no atual estágio de evolução.

 
Estamos lidando com problemas imensos e talvez interferindo em coisas elevadas e grandiosas; estamos ultrapassando regiões reconhecidas como domínio da metafísica; e estamos tentando sintetizar em algumas curtas palestras o que todas as bibliotecas do mundo contêm; estamos, portanto, tentando o impossível. Tudo que podemos fazer é abordar, breve e superficialmente, primeiro um aspecto da verdade, depois outro. Tudo que possivelmente iremos conseguir será um esboço das linhas básicas de evolução, um estudo de sua relação recíproca conosco como entidades conscientes, e depois tentar fundir e sintetizar o pouco que conseguimos saber, até que alguma ideia geral do processo, como um todo, se torne mais clara.

 
Devemos lembrar, em relação a toda afirmação de verdade, que cada uma provém de um ponto de vista determinado. Enquanto não tivermos desenvolvido nossos processos mentais, e até sermos capazes de pensar tanto em termos abstratos quanto em termos concretos, não nos será possível responder totalmente à pergunta, Que é a verdade?, nem expressar qualquer aspecto dessa verdade de maneira totalmente imparcial. Algumas pessoas possuem horizontes mais amplos que outras e algumas podem ver a unidade subjacente aos diferentes aspectos. Outras estão propensas a pensar que sua perspectiva e interpretacão são as únicas. Espero, nestas palestras, ampliar de alguma forma nosso ponto de vista. Espero que cheguemos à compreensão de que o homem que só se interessa pelo aspecto científico e que se limita ao estudo dessas manifestações puramente materiais, esteja tão ocupado com o estudo do divino quanto seu irmão francamente religioso que só se preocupa com o lado espiritual; e que o filósofo esteja, acima de tudo, ocupado em enfatizar para nós o aspecto importante da inteligência que une os lados material e espiritual, e em combiná-los em um todo coerente. Talvez, pela união destas três linhas, da ciência, religião e filosofia, possamos chegar a um conhecimento ativo da verdade como ela é, lembrando ao mesmo tempo que "a verdade está dentro de nós". Ninguém consegue a total expressão da verdade e o único propósito do pensamento é habilitar-nos a construir criativamente para nós mesmos, e trabalhar na matéria mental.

 
Eu gostaria de, esta noite, esboçar meu plano, apresentar as bases de nossas próximas palestras e mencionar as linhas gerais da evolução. A linha mais aparente é, com certeza, aquela que lida com a evolução da substância, com o estudo do átomo e a natureza da matéria atômica. Mencionaremos isto na próxima semana. A ciência tem muito a nos dizer sobre a evolução do átomo e percorreu um longo caminho nos últimos cinquenta anos, do ponto de vista do século passado. Naquele tempo, o átomo era considerado como uma unidade indivisível da substância; agora é visto como um centro de energia, ou força elétrica.

 
Da evolução da substância somos naturalmente levados à evolução das formas, ou de amontoados de átomos, e aí abrir-se-á para nós a interessante consideração de formas outras que não as puramente materiais — formas existentes em substância mais sutil, tais como as formas de pensamento, as formas raciais e as formas das organizações. Neste estudo dual, um dos aspectos da divindade será enfatizado, quer escolhamos o termo "divindade", quer uma das manifestações da natureza, se preferirem uma expressão menos sectária.

 
Seremos, então, levados à consideração da evolução da inteligência ou do fator da mente que esteja trabalhando como propósito ordenado em tudo o que vemos à nossa volta. Isto nos revelará um mundo que não segue seu caminho cegamente, mas que tem, por trás, algum plano, algum esquema coordenado, algum conceito organizado que se exterioriza por intermédio da forma material. Uma razão por que as coisas nos parecem tão difíceis de serem compreendidas se relaciona ao fato de que estamos em meio a um período de transição e o plano é ainda imperfeito; estamos muito perto do maquinismo, sendo nós mesmos uma parte integral do todo. Vemos uma pequena parte dele aqui, outra pequena parte lá, porém não conseguimos alcançar toda a grandeza da ideia. Podemos ter uma visão, um momento elevado de revelação, mas quando entramos em contato com a realidade em todos os lados, nós questionamos a possibilidade da materialização ideal, porque a relação inteligente entre a forma e aquilo que ela utiliza parece-nos longe de um ajuste.

 
O reconhecimento do fator da inteligência levar-nos-á, inevitavelmente, à contemplação da evolução da consciência em suas múltiplas formas, variando todo o tempo entre os tipos de consciência que consideramos sub-humanos, passando pela humana, até logicamente a considerada (ainda que não possa ser demonstrada) como consciência sobre-humana.

 
A próxima pergunta com que nos defrontaremos será, que existe por trás de todos esses fatores? Existirá, por trás da forma objetiva e de sua inteligência animada, uma evolução que corresponda à faculdade do "Eu", ao Ego no homem? Haverá, na natureza e em tudo que vemos à nossa volta, a elaboração do propósito de um ser individualizado, auto-consciente?

 
Se há tal Ser, e se tal existência fundamental existe, deveríamos poder ver algo de Suas atividades inteligentes, além de observar a concretização de Seus planos. Mesmo que não possamos provar que Deus existe, pode-se dizer que, pelo menos, a hipótese de sua existência é razoável, uma sugestão racional e uma solução possível para todos os mistérios que nos rodeiam. Mas para fazer isto é preciso demonstrar que existe um propósito inteligente trabalhando através de todos os tipos de forma, através das raças e nações e através de tudo que vemos se manifestar na civilização moderna; as etapas que aquele objetivo tomou e o crescimento gradual do plano terão que ser demonstrados e talvez possamos, a partir desta evidência, ver à nossa frente os estágios posteriores.
 
Consideremos, por um minuto, o que queremos dizer com as palavras "processo evolutivo". Elas estão sendo constantemente usadas e o homem comum sabe bem que a palavra "evolução" sugere um desenvolvimento de dentro para fora e o desabrochar de um centro interior; precisamos, porém, definir a ideia mais claramente, para chegarmos a um conceito melhor. Uma das melhores definições que encontrei é a que considera a evolução como 'o desabrochar de uma força que aumenta continuamente seu poder de resposta". Temos aqui uma definição muito esclarecedora, se considerarmos o aspecto matéria da manifestação. Ela envolve a concepção da vibração e de resposta à vibração e, embora no devido tempo possamos vir a nos desfazer do termo "matéria" e usar uma sugestão como "centro de força", o conceito ainda será bom e a resposta do centro ao estímulo deverá ser vista com precisão ainda maior. Ao considerar a consciência humana, esta mesma definição é de real valor. Ela envolve a ideia de uma conscientização gradualmente mais ampla da resposta crescente da vida subjetiva ao seu meio-ambiente e nos leva, finalmente, para a frente e para cima, até o ideal de uma Existência unificada que será a síntese de todas as linhas de evolução, e a uma concepção de uma Vida central, ou força, a qual funde e une todas as unidades evolutivas, sejam elas unidades de matéria, tais como o átomo do químico e do físico, ou unidades de consciência, tais como os seres humanos. Isto é a evolução, o processo que faz a vida desabrochar em todas as unidades, o estímulo crescente que finalmente funde todas as unidades e grupos, até que tenhamos aquela soma total de manifestação que pode ser chamada de Natureza, ou Deus, e que é o agregado de todos os estados de consciência. Este ê o Deus a Quem o Cristão se refere quando diz "Nele vivemos e nos movemos e temos nosso ser"; esta é a força ou energia que o cientista reconhece; e esta é a mente universal ou a Superalma do filósofo. Esta, novamente, é a Vontade inteligente que controla, formula, liga, constrói, desenvolve e leva tudo a uma máxima perfeição. Esta é aquela Perfeição inerente à própria matéria, e a tendência latente no átomo, no homem e em tudo que existe. Esta interpretação do processo evolutivo não o considera como o resultado de uma Divindade exterior derramando Sua energia e sabedoria sobre um mundo em expectativa, mas sim como algo latente dentro do próprio mundo, que jaz oculto no coração do átomo da química, no coração do próprio homem, no interior do planeta, e dentro do sistema solar. É aquele algo que impele tudo em direção ao objetivo; é a força que está gradualmente extraindo ordem do caos; a máxima perfeição, da imperfeição temporária; o bem, do mal aparente; e da treva e da desgraça, aquilo que nós algum dia reconheceremos como belo, correto e verdadeiro. É tudo que visualisamos e concebemos em nossos melhores e mais elevados momentos.

 
A evolução tem sido também definida como "desenvolvimento cíclico" e esta definição me leva a um pensamento, o qual anseio que todos compreendamos completamente. A natureza se repete continuadamente, até que certos objetivos definidos tenham sido alcançados, certos resultados concretos obtidos e certas respostas transformadas em vibrações. É pelo reconhecimento desta realização que o objetivo inteligente da Existência viva pode ser demonstrada. O método pelo qual isto se consegue é o da escolha inteligente, ou da discriminação. Má, nos textos escolares, muitas palavras usadas para indicar a mesma ideia geral, tais como "seleção natural" ou "atração e repulsão". Eu gostaria de evitar termos técnicos, sempre que possível, porque eles são usados por uma linha de pensamento para significar uma coisa e por outra para algo diferente. Se pudermos achar uma palavra semelhante em seu objetivo e, contudo, desligada de qualquer linha de pensamento, poderemos encontrar uma nova luz lançada sobre nosso problema. A atração e repulsão no sistema solar nada mais é do que a faculdade discriminativa do átomo ou do homem demonstrada nos planetas e no sol. Ela será encontrada em todas as espécies de átomos; podemos chamá-la de adaptação, se assim o desejarmos, ou o poder da unidade crescer e se adaptar ao seu meio-ambiente pela rejeição de certos fatores e aceitação de outros. No homem, ela se demonstra como o llvre-arbítrio ou o poder de escolha e, no homem espiritual, pode ser considerada como a tendência ao sacrifício, porque um homem neste caso escolhe uma particular linha de ação para beneficiar o grupo ao qual ele pertence e rejeita o que é puramente egoísta.

 
Poderíamos finalmente definir evolução como mudança ordenada e mutação constante. Ela se demonstra na atividade incessante da unidade do átomo, na Interação entre grupos e na infinita atuação de uma força: ou tipo de energia, sobre outra.



Já vimos que a evolução, seja ela da matéria, da inteligência, da consciência ou do espírito, consiste em um poder, sempre crescente, de responder à vibração, que ela acentua pela mudança constante, pela prática de uma política seletiva, ou pelo uso da faculdade discriminativa, e pelo método do desenvolvimento cíclico, ou repetição. Os estágios que caracterizam o processo evolutivo podem ser, de modo geral, divididos em três, correspondentes aos estágios da vida do ser humano: infância, adolescência e maturidade. Onde o homem estiver envolvido, estas etapas podem ser identificadas na unidade humana ou na raça, e à medida que as civilizações passam e aumentam, deveria certamente ser possível identificar a mesma ideia trilateral na família humana como um todo e, assim, afirmar o objetivo divino, pelo estudo de Sua imagem, ou reflexo, o HOMEM. Poderíamos expressar estes três estágios em termos mais científicos e ligá-los às três escolas de pensamento referidas anteriormente, estudando-as como:

 
a) O estágio da energia atômica;
 
b) O estágio da coesão grupal;
 
c) O estágio da existência unificada e sintética. Vejamos se me posso fazer entender: O estágio da energia atômica é o que diz respeito ao lado material da vida e corresponde ao período da infância do homem ou da raça. É a época do realismo, da atividade intensa, do desenvolvimento pela ação acima de tudo, ou do interesse por si próprio e egocentrismo puros. Ele produz o ponto de vista materialista e leva inevitavelmente ao egoísmo. Ele envolve o reconhecimento do átomo como inteiramente auto-suficiente e, do mesmo modo, de cada unidade humana como tendo uma vida separada, à parte de todas as demais unidades, sem nenhuma relação recíproca. Tal etapa pode ser vista nas raças pouco desenvolvidas do mundo, nas criancinhas e nos que são pouco desenvolvidos.

 
Eles são normalmente centrados em si mesmos; suas energias dizem respeito à sua própria vida; estão ocupados com o que é objetivo e tangível; caracterizam-se por um egoísmo necessário e protetor. é uma etapa muito necessária ao desenvolvimento e à perpetuação da raça.

 
Deste período atômico egoísta cresce outro estágio, o da coesão grupal. Este envolve a construção de formas e espécies até que se tenha algo coeso e individualizado como um todo, composto, todavia, de muitas formas e individualidades menores. Em relação ao ser humano, esta etapa corresponde ao seu despertar para a conscientização da responsabilidade e para o reconhecimento de seu lugar no grupo. E exige habilidade da parte do homem para reconhecer uma vida maior do que a sua própria, quer seja esta vida chamada Deus, ou simplesmente considerada a vida do grupo ao qual o homem, como uma unidade, pertence; aquela grande Identidade da qual somos parte. Esta linha de pensamento corresponde à que chamamos de sobrenatural e deve ser seguida, em seu devido tempo, por um conceito mais amplo e verdadeiro. Como já vimos, a primeira etapa, ou atômica, desenvolve-se pelo egoísmo, ou vida centrada no próprio átomo (seja o átomo da substância ou o átomo humano); o segundo estágio encaminha-se para a perfeição, pelo sacrifício da unidade pelo bem de muitos, e do átomo pelo grupo no qual ele tem seu lugar. Esta etapa é algo da qual sabemos muito pouco e é a que nós frequentemente visualisamos e esperamos.

 
O terceiro estágio está situado muito à frente e poderá ser considerado, por muitos, uma vã quimera. Mas alguns de nós possuímos uma visão, a qual, ainda que inatingível agora, será logicamente possível se nossas premissas estiverem certas e nossa base colocada corretamente. É o estágio da existência unificada. Não somente haverá as unidades separadas de consciência, não somente haverá átomos dfierenciados na forma, não somente o grupo, constituído por uma multiplicidade de identidades, mas teremos o agregado de todas as formas, de todos os grupos, de todos os estágios de consciência fundidos, unificados e sintetizados num todo perfeito. Este todo poderá ser chamado de sistema solar, de natureza ou de Deus. Os nomes não importam. Ele corresponde ao período adulto do ser humano; é análogo ao período de maturidade e àquele estágio em que o homem deve ter um propósito e uma ocupação definidos, na vida, e um plano bem límpido em vista, o qual ele estará elaborando com a ajuda de sua inteligência. Nestas palestras eu gostaria de mostrar, se houver oportunidade, que algo do género ocorre no sistema solar, no planeta, na família humana, e no átomo. Confio que possamos provar que existe uma existência subjacente a tudo; e que da separação virá a união, produzida através da união e da fusão em formação grupal e que, finalmente, dos muitos grupos emergirá o todo perfeito e plenamente consciente, composto de miríades de entidades separadas, animadas por um propósito uno e uma vontade una. Se é assim, qual será o próximo degrau para aqueles que chegam a esta compreensão? Como poderemos dar aplicação prática a este ideal em nossas vidas, e determinar nossa tarefa imediata, de modo que possamos participar do plano e levá-lo adiante conscientemente?

 
No processo cósmico temos nossa minúscula participação e cada dia de atividade deveria ver-nos executando nossa tarefa com compreensão inteligente.

 
Nosso primeiro objetivo deveria ser a auto-conscientização pela prática da discriminação; deveríamos aprender a pensar claramente por nós mesmos, a formular nossos próprios pensamentos e a manipular nossos próprios processos mentais; deveríamos aprender a conhecer o que pensamos e porque pensamos, a descobrir o sentido da consciência grupal através do estudo da lei do sacrifício. Não somente deveríamos descobrir-nos pelo egoísmo que marca o primeiro estágio da infância (e certamente ele deve estar por trás de nós), não somente deveríamos aprender a distinguir entre o real e o irreal, pela prática da discriminação, mas também deveríamos empenhar-nos a prosseguir, dali, para algo muito melhor. Nosso imediato objetivo deveria ser encontrar o grupo a que pertencemos. Não pertencemos a todos os grupos, nem podemos conscientemente compreender nosso lugar no grande Corpo, porém podemos encontrar algum grupo onde tenhamos nosso lugar, algumas pessoas com as quais possamos cooperar e trabalhar, algum irmão ou irmãos a quem possamos ajudar e socorrer. Isto realmente envolve o contato consciente do ideal de fraternidade — e até que tenhamos evoluído até a etapa onde nosso conceito seja universal — significa encontrar o grupo especial de irmãos que podemos amar e ajudar pela lei do sacrifício e pela transformação do egoísmo em serviço amoroso. Assim poderemos cooperar no objetivo geral e participar da missão do grupo.
 

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