quarta-feira, 15 de julho de 2015

A EVOLUÇÃO DA FORMA OU EVOLUÇÃO DO GRUPO

 

Esta noite quero ampliar a ideia básica da unidade da consciência, ou da inteligência, tal como foi desenvolvida na palestra anterior, e estender um pouco mais o conceito. Foi dito que toda evolução procede do homogéneo, através da heterogeneidade, de volta à homogeneidade e demonstrei que:
 
 
"A evolução é uma marcha cada vez mais acelerada de todas as partículas do universo que as leva, simultaneamente, por um caminho semeado pela destruição, porém ininterrupto e sem vacilação, do átomo material até aquela consciência universal na qual a onipotência e a onisciência são compreendidas; numa palavra, até à conscientização completa do Absoluto, de Deus".
 
 
Isto vem daquelas minúsculas diversificações a que chamamos de moléculas e átomos, até seus agregados ao se constituírem em formas; e continua, através da construção daquelas formas em formas maiores, até que tenhamos um sistema solar completo. Tudo aconteceu de conformidade com a lei, e as mesmas leis básicas comandam tanto a evolução do átomo quanto a evolução de um sistema solar. O macrocosmo repete-se no homem, e o microcosmo, por sua vez, se reflete em todos os átomos menores.
 
 
Estas observações e a palestra anterior dizem respeito, primeiramente, à manifestação material de um sistema solar, porém procurarei pôr a ênfase de nossas palestras futuras, principalmente, no que poderíamos chamar de evolução psíquica, ou a demonstração gradual e o processo evolutivo daquela inteligência subjetiva, ou consciência, que jaz por trás da manifestação objetiva.
 
 
Como de costume, dividirei esta palavra em quatro partes: Primeiro, tomaremos o objetivo do processo evolutivo, o qual, neste caso particular, é a evolução da forma, ou do grupo; a seguir, o método de desenvolvimento grupai; depois estudaremos os estágios que se seguem durante o ciclo de evolução e, finalmente, concluiremos com uma tentativa de sermos práticos, tirando de nossas conclusões alguma lição aplicável à nossa vida diária.
 
 
A primeira coisa que precisamos fazer é considerar, de algum modo, a questão do que é realmente urna forma. Se formos a um dicionário encontraremos a seguinte definição: "A forma ou configuração externa de um corpo". Nesta definição foi dada ênfase à sua aparência exterior, sua tangibilidade e manifestação exotérica. Este pensamento é também trazido à baila se o significado do radical da palavra "manifestação" for cuidadosamente estudado. Ela vem de duas palavras latinas, significando 'tocar ou lidar com a mão' (manus, a mão, e fendere, tocar) e então a ideia que vem à nossa mente é o pensamento tríplice, daquilo que pode ser sentido, tocado e compreendido como tangível. Contudo, em ambas as interpretações perde-se de vista a parte mais importante do conceito e devemos voltar-nos para outro lado, a fim de encontrarmos uma definição mais verdadeira. Em minha opinião, Plutarco dá a ideia da manifestação do subjetivo por meio da forma objetiva, de uma maneira muito mais esclarecedora que o dicionário. Ele diz:
 
 
"Uma ideia é um ser incorpóreo, que não tem subsistência por si só, mas dá forma e imagem à matéria amorfa, e torna-se a causa da manifestação".
 
 
Temos aqui uma frase muito interessante, de um sentido realmente ocultista. é uma frase que compensará uma reflexão e estudo cuidadosos, porque engloba um conceito que diz respeito não só àquela pequena manifestação, o átomo do químico e do físico, mas também a todas as formas que se constituem por seu meio; incluindo a manifestação de um ser humano da Divindade de um sistema solar, aquela grande Vida que abrange tudo, aquela Mente universal, aquele vibrante centro de energia e aquela grande consciência envolvente que chamamos de Deus, ou Força, ou Logos, a Existência que se expressa por intermédio do sistema solar.
 
 
Na Bíblia cristã, o mesmo pensamento surge em uma carta de São Paulo à Igreja de Éfeso. No segundo capítulo da Epístola aos Éfesos, ele diz: "Nós somos sua (dele) obra". Literalmente, a tradução correta do grego é: "Somos seu poema, ou ideia", e o pensamento na mente do apóstolo é que, por intermédio de cada vida humana ou do agregado de vidas que compõem um sistema solar, Deus está, por meio da forma, qualquer que esta seja, elaborando uma ideia, um conceito específico, ou um detalhado poema. Um homem é um pensamento encarnado e este é também o conceito latente na definição de Plutarco. Temos aí, primeiro, a ideia de uma entidade auto-consciente, depois o reconhecimento do pensamento ou propósito que aquela entidade está procurando expressar e, finalmente, o corpo, ou forma, que é o resultado subsequente.
 
 
O termo Logos, traduzido como o Verbo, é frequentemente usado no Novo Testamento, ao falar da Divindade. A passagem notável, onde este é o caso, é o primeiro capítulo do Evangelho de São João, onde as palavras aparecem: "No começo era o Verbo, e a palavra estava com Deus e a palavra era Deus". Examinemos por um minuto o sentido da expressão. Sua tradução literal é "a Palavra" e foi definida como "transformar um pensamento oculto em uma expressão objetiva". Se tomarmos qualquer substantivo ou palavra similar, por exemplo, e estudarmos seu significado objetivo, chegaremos à conclusão que há sempre um pensamento definido transmitido à mente, envolvendo propósito, intenção ou talvez algum conceito abstrato. Se este mesmo método de estudo puder ser ampliado para incluir a ideia da Divindade ou do Logos, pode-se esclarecer bastante esta questão recôndita da manifestação de Deus, a Inteligência central, por meio da forma material, quer O vejamos manifestado através da forma minúscula de um átomo químico, quer a daquele Seu corpo físico gigantesco a que chamamos de um sistema solar.
 
 
Em nossa palestra da semana passada, chegamos à conclusão que havia uma coisa que podia ser confirmada em todos os átomos e que os cientistas em toda parte estavam chegando ao reconhecimento de uma característica distinta. Os átomos mostraram possuir sintomas de mente e uma forma rudimentar de inteligência. O átomo apresenta a qualidade de discriminação, ou poder seletivo, e a habilidade de atrair ou repelir. Pode parecer curioso usar a palavra inteligência em conexão com um átomo de química, por exemplo. Porém o radical da palavra abrange esta ideia perfeitamente. Ele vem de duas palavras latinas: inter (entre) e legere (escolher). A inteligência, portanto, é a capacidade de pensar ou escolher, de selecionar e de discriminar. É, na verdade, aquele algo abstrato, inexplicável, que jaz por trás da grande lei de atração e repulsão, uma das leis básicas de manifestação. Esta faculdade fundamental da inteligência caracteriza toda matéria atômica e também comanda a construção de formas, ou a agregação de átomos.
 
 
Anteriormente, nos ocupamos do átomo per se, mas não consideramos sua participação na constituição de uma forma ou naquela totalidade de formas a que chamamos um reino na natureza. Consideramos de algum modo a natureza essencial do átomo e sua característica primária de inteligência e demos ênfase àquilo a partir do que, como sabemos, todas as formas são construídas — todas as formas nos reinos mineral, vegetal, animal e humano. Na soma total de todas as formas, temos a totalidade da natureza como geralmente é compreendida.
 
 
Agora, estendamos nossa ideia das formas individuais que vão até a constituição de qualquer destes quatro reinos da natureza e as visualizemos como provendo aquela forma ainda maior a que chamamos o próprio reino, e assim consideremos aquele reino como uma unidade consciente, formando um todo homogéneo. Assim, cada reino na natureza pode ser considerado como fornecendo uma forma através da qual pode manifestar-se uma consciência de alguma espécie ou grau. Do mesmo modo, o agregado de formas animais compõe aquela forma maior a que chamamos o próprio reino, e este reino animal também tem seu lugar dentro de um corpo ainda maior. Através deste reino uma vida consciente pode estar buscando expressão e, através da reunião dos reinos, uma vida subjetiva maior ainda, pode estar procurando manifestar-se.
 
 
Em todos estes reinos que estamos considerando — mineral, vegetal, animal e humano — temos novamente três fatores presentes, considerando, naturalmente, que a base de nosso raciocínio esteja correta: primeiro, que o átomo primitivo é, em si mesmo, uma vida; segundo, que todas as formas se constróem de uma multiplicidade de vidas, e assim um todo coerente estabelece-se, através do qual uma entidade subjetiva elabora um propósito; terceiro, que a vida central dentro da forma é seu impulso propulsor, a fonte de sua energia, a origem de sua atividade e o que fixa a forma como uma unidade.
 
 
Este pensamento pode muito bem ser elaborado, por exemplo, em colaboração com o homem. Para os fins de nossa palestra, o homem pode ser definido como aquela energia central, vida, ou inteligência, que opera por meio de uma manifestação material ou forma, esta forma sendo construída a partir de miríades de vidas inferiores. A este respeito tem-se notado freqüentemente um fenômeno curioso na hora da morte; tomei conhecimento disso muito particularmente, há alguns anos, por intermédio de uma enfermeira de cirurgia das mais capazes, na tn-dia. Ela havia sido ateia por muito tempo, mas havia começado a questionar a base de sua descrença depois de testemunhar este fenômeno várias vezes. Ela me assegurou que, na hora da morte, em muitos casos, um facho de luz tinha sido visto por ela, fluindo do topo da cabeça e que em um caso especial (o de uma garota aparentemente de grande desenvolvimento espiritual, além de grande pureza e santidade de vida) o quarto pareceu ter sido iluminado momentaneamente pela eletricidade. Outro exemplo: não muito tempo atrás, diversos líderes da profissão médica em uma grande cidade do Meio Oeste dos Estados Unidos foram abordados por um investigador interessado, o qual, por carta, lhes perguntou se estariam dispostos a confirmar se tinham notado qualquer fenômeno especial no momento da morte. Diversos responderam dizendo que haviam notado uma luz azulada fluindo do topo da cabeça e um ou dois acrescentaram ter ouvido um estalo na região da cabeça. Neste último exemplo temos uma confirmação do testemunho no Eclesiastes, onde se menciona o afrouxar do cordão prateado, ou a rutura daquele elo magnético que une a entidade habitante, ou pensador, ao seu veículo de expressão. Em ambos os tipos de casos acima mencionados pode-se aparentemente ver uma demonstração ocular da retirada da luz central ou vida, e a consequente desintegração da forma, e a dispersão das miríades de vidas inferiores.
 
 
Portanto, pode parecer a alguns de nós uma hipótese lógica, que do mesmo modo que o átomo de química é uma esfera pequenina, ou forma, com um núcleo positivo que conserva os elétrons negativos, girando em torno de si, todas as formas em todos os reinos da natureza são de uma estrutura semelhante, diferindo somente em grau de consciência ou inteligência. Podemos, portanto, considerar os próprios reinos como a expressão física de alguma grande vida subjetiva e podemos, por deduções lógicas, chegar ao reconhecimento de que cada unidade na família humana é um átomo no corpo daquela unidade maior que foi chamada de "Homem Celestial" em algumas das Escrituras. Assim, chegamos finalmente ao conceito de que o sistema solar não passa do agregado de todos os reinos e de todas as formas, e é o Corpo de um Ser Que Se expressa por meio dele e o utiliza a fim de dar forma a um objetivo definido e a uma ideia central. Em todas estas extensões de nossa hipótese final, pode-se ver a mesma triplicidade, uma Vida em formação ou uma Entidade se manifestando através de uma forma ou de uma multiplicidade de formas, e apresentando inteligência discriminativa.
 
 
Não é possível aplicar o método pelo qual se constróem as formas nem me expandir sobre o processo evolutivo por meio do qual os átomos se combinam em formas, e as próprias formas são reunidas naquela unidade maior que chamamos de reino na natureza. Este método poderia ser brevemente resumido em três termos — involução, ou o envolvimento da vida subjetiva na matéria, o método pelo qual a Entidade habitante toma para si seu veículo de expressão; evolução, ou a utilização da forma pela vida subjetiva, seu aperfeiçoamento gradual e a libertação final da vida aprisionada; e a lei de atração e repulsão pela qual a matéria e o espírito se coordenam, pela qual a vida central ganha experiência, expande sua consciência e, através do emprego daquela forma particular, atinge o auto-conhecimento e o auto-controle. Tudo evolui segundo esta lei básica. Em toda forma temos uma vida central, ou ideia, se manifestando, envolvendo-se mais e mais na substância, revestindo-se de uma forma adequada às suas necessidades e exigências, utilizando aquela forma como um meio de expressão, e então — no devido tempo — libertando-se da forma utilizada a fim de adquirir outra mais adequada à sua necessidade. Assim, o espirito ou vida progride por meio de cada grau ou forma, até que o caminho de volta tenha sido percorrido e o ponto de origem alcançado. Este é o sentido da evolução e aqui está o segredo da encarnação cósmica. Finalmente, o espírito se livra da forma e alcança a libertação além da qualidade física desenvolvida e das expansões graduais de consciência.
 
 
Poderíamos observar estes estágios definidos e estudá-los rapidamente. Temos em primeiro lugar o processo de involução. Este é o período no qual se processa a limitação da vida dentro da forma, ou invólucro, e é um processo longo e lento cobrindo milhões e milhões de anos. Cada tipo de vida participa deste ciclo. Diz respeito à vida do Logos Solar, em manifestação através de um sistema solar. É parte do ciclo de vida do Espírito planetário se manifestando através de uma esfera como nosso planeta Terra; inclui a vida que chamados de humana e lança no caminho de sua energia a minúscula vida que funciona através de um átomo de química. É o grande processo de tornar-se e o que torna a existência e o próprio ser possíveis. Este período de limitação, de um aprisionamento que aumenta gradualmente e de uma descida cada vez mais profunda na matéria, é substituído por um período de adaptação, no qual a vida e a forma se relacionam intimamente, após o qual vem o período onde aquela relação interior se aperfeiçoa. A forma é então ajustada às necessidades da vida e pode ser utilizada. Depois, à medida que a vida interior cresce e se expande, é comparável à cristalização da forma, a qual não é mais suficiente como meio de expressão. Após a cristalização temos o período de desintegração. Limitação, adaptação, utilização, cristalização e desintegração — são estas as etapas que cobrem a vida de uma entidade ou ideia personificada em maior ou menor grau, ao procurar expressar-se pela matéria.
 
 
Desenvolvamos este pensamento em relação ao ser humano. O processo de limitação pode ser visto na tomada de uma forma física e naqueles primeiros dias rebeldes, quando o homem está cheio de desejos, aspirações, anseios e ideais, os quais ele parece incapaz de exprimir ou satisfazer. A seguir vem o período de adaptação, quando o homem começa a utilizar o que possui e a expressar-se o melhor possível através daquelas miríades de vidas menores e inteligências que constituem seus corpos físico, emocional e mental. Ele ativa sua forma tríplice, forçando-a a cumprir suas ordens e a obedecer seus propósitos e assim executar seu plano, seja para o bem ou para o mal. Isto é seguido da etapa na qual ele utiliza a forma ao máximo e chega ao que chamamos de maturidade. Finalmente, nas etapas posteriores da vida, temos a cristalização da forma e a conscientização, pelo homem, da sua inadequação.
 
 
A seguir, vem a libertação feliz a que chamamos de morte, aquele grande momento em que "o espírito aprisionado" escapa das paredes que o confinavam à sua forma física. Nossas ideias sobre a morte têm sido erradas; nós a temos considerado como um último e máximo terror quando, na realidade, é a grande libertação, a entrada numa medida de atividade mais completa e a liberação da vida do veículo cristalizado e de uma forma inadequada. Pensamentos semelhantes a estes podem ser elaborados em relação a todas as formas, e não somente àquelas ligadas ao corpo físico de um ser humano. Estas ideias podem ser aplicadas a formas de governo, formas de religião e formas de pensamento científico ou filosófico. Elas podem resultar em uma conduta especialmente interessante neste ciclo em que vivemos. Tudo está em estado de fluxo; a velha ordem está mudando e estamos num período de transição; as formas antigas, em todo departamento do pensamento, estão se desintegrando, mas somente para que a vida que lhes deu existência possa escapar, e construir para si algo mais satisfatório e adequado. Tomemos, por exemplo, a antiga forma religiosa da fé cristã. Aqui peço que não me entendam mal. Não estou tentando provar que o espírito do cristianismo seja inadequado e não estou procurando demonstrar que as suas verdades bem sustentadas e provadas estejam erradas. Estou somente tentando mostrar que a forma pela qual o espírito procura expressar-se atingiu, de algum modo, seu objetivo e se sente limitado.
 
 
Aquelas mesmas grandes verdades e aquelas mesmas ideias básicas necessitam de um veículo mais adequado para se manifestarem. Os pensadores cristãos da atualidade necessitam distinguir cuidadosamente entre as verdades vitais do cristianismo e a forma cristalizada da teologia. Cristo deu o impulso vivo. Ele enunciou estas grandes e eternas verdades e as proclamou a fim de tomarem forma e irem de encontro às necessidades de um mundo sofredor. Elas estavam limitadas pela forma e houve um longo período em que aquela forma (doutrinas e dogmas religiosos) gradualmente cresceu e tomou forma. Decorreram séculos em que a forma e a vida pareceram adaptar-se reciprocamente e os ideais cristãos se expressaram por meio daquela forma. Agora manifestou-se o período de cristalização, e a consciência cristã que se acha em expansão começa a considerar restritas e inadequadas as limitações dos teólogos. A grande fábrica de dogmas e doutrinas, tal como elaborados pelos membros da igreja e teólogos das épocas, deverá inevitavelmente desintegrar-se, mas só para que a vida dentro deles possa escapar e construir para si meios de expressão melhores e mais adequados, e assim estar à altura da missão para a qual foi enviada.
 
 
Pode-se ver a mesma coisa nas diferentes escolas de pensamento, em todos os lugares. Todas elas expressam alguma ideia por intermédio de uma particular forma, ou conjunto de formas, e é muito necessário lembrar que a forma tríplice de vida por trás de todas as formas é, entretanto, apenas Uma, embora os veículos de expressão sejam vários e possam provar ser inadequados à medida que o tempo passa.
 
 
Qual, então, o objetivo que existe por trás deste processo sem fim de construção de formas e desta combinação de formas inferiores? Qual a razão de tudo isto e qual será seu comprovado objetivo? Certamente, o desenvolvimento da qualidade, a expansão da consciência, o desenvolvimento da faculdade de conscientização, a evidenciação dos poderes da psique, ou alma, a evolução da inteligência. Seguramente, é a demonstração gradual da ideia básica, ou propósito, que aquela grande Entidade a Que chamamos de Logos, ou Deus, está elaborando através do sistema solar. É a demonstração de Sua qualidade psíquica, porque Deus é Amor inteligente, e a consecução de Seu objetivo determinado, porque Deus é Vontade inteligente e amorosa.
 
 
Para todos os diferentes graus e tipos de átomo, há também um propósito e um objetivo. Há um objetivo para o átomo da química; há um ponto de conquista para o átomo humano, o homem; o átomo planetário algum dia também demonstrará seu propósito básico e a grande Ideia que existe por trás do sistema solar será revelada algum dia. Será que em alguns breves momentos de estudo poderemos chegar a uma concepção segura de qual possa ser este propósito? Talvez possamos chegar a alguma ideia ampla, geral, se abordarmos o assunto com bastante reverência e sensibilidade de concepção, tendo em mente sempre que só o ignorante dogmatiza e só o imprudente ocupa-se com minúcias ao considerar estes monumentais tópicos.
 
 
Vimos que o átomo de química, por exemplo, apresenta a qualidade de inteligência; demonstra sintomas de mente discriminativa e rudimentos de uma capacidade seletiva. Assim, a vida minúscula dentro da forma atômica demonstra qualidade psíquica. O átomo constrói-se, pois, em todas as formas, em diversos tempos e etapas e cada vez adquire algo de acordo com a força e a vida da entidade que personifica aquela forma e preserva sua homogeneidade. Tomemos, por exemplo, o átomo que entra na construção de uma forma no reino mineral; ele demonstra não só uma mente discriminativa e seletiva, como também elasticidade. A seguir, no reino vegetal estas duas qualidades também aparecem, mas encontra-se ainda uma terceira, a que poderíamos chamar de uma espécie rudimentar de sensação. A inteligência inicial do átomo adquiriu algo durante a transição de forma para forma e de reino para reino, e sua consciência geral aumentou. Quando estudamos a evolução da consciência, pudemos presenciar isto em maior detalhe; tudo que tento fazer esta noite é mostrar que, no reino vegetal, as formas construídas de átomos demonstram não só inteligência discriminativa e elasticidade, mas são também capazes de sensação, ou do que, no reino vegetal, corresponde à emoção ou ao sentimento, a emoção nada mais sendo que amor rudimentar. A seguir, temos o reino animal, no qual as formas animais mostram não só as qualidades acima mencionadas, mas também o instinto, ou aquilo que algum dia desabrochará em mentalidade. Finalmente, chegamos ao ser humano, que apresenta todos estas qualidades em grau muito maior, porque o quarto reino nada mais é do que o macrocosmo para os três inferiores. O homem apresenta atividade inteligente, ele é capaz de emoção ou amor e acrescentou ainda outro fator: o da vontade inteligente. Ele é a divindade de seu próprio pequeno sistema, ele é não só consciente, mas auto-consciente. Ele constrói seu próprio corpo de manifestação do mesmo modo que o Logos, só que em escala diminuta; ele controla seu pequeno sistema pela grande lei de atração e repulsão, tal como o Logos, e ener-gisa e sintetiza sua natureza tríplice em uma unidade coesa. Ele é três em um, e o uno em três, tal como é o Logos.
 
 
Há um futuro para cada átomo no sistema solar. Antes do átomo último existe um objetivo extraordinário, e, à medida que as eras passem, a vida que anima aquele átomo passará por todos os reinos da natureza até encontrar seu objetivo no reino humano.
 
 
A ideia agora poderia estender-se e poderíamos considerar aquela grande Entidade Que é a formadora de vida do planeta, e Que sustenta todos os reinos da natureza em Sua consciência. Já que ela forma a totalidade de todos os grupos e reinos, não será possível que Sua inteligência, seja a meta para o homem, o átomo humano? Talvez o alcance de sua conscientização atual também possa ser nosso, à medida que o tempo passe, e para a Sua Vida, tal como para todas aquelas grandes Vidas Que formam os planetas do sistema solar, possa haver a conquista daquele tremendo alcance de consciência que caracteriza essa grande Existência Que é a Vida que anima o sistema solar. Não poderá ser verdade que, entre os diferentes graus de consciência que se estendem, por exemplo, do átomo do químico e do físico, até o Logos do sistema solar, não haja lacunas nem transições bruscas, mas sim uma gradual expansão e evolução de uma forma de manifestação inteligente para outra, e sempre a vida dentro da forma ganhe em qualidade, por meio da experiência?
 
 
Quando formamos está ideia na nossa consciência, quando se torna evidente para nós que há um propósito e direção por trás de tudo, quando entendemos que nada acontece que não seja resultado da vontade consciente de alguma entidade, e que tudo que acontece tem objetivo e propósito definidos, temos aí, então, a pista para nós mesmos e para tudo que vemos acontecer à nossa volta. Se, por exemplo, compreendemos que temos a formação e o cuidado de nossos corpos físicos, que temos o controle de nossa natureza emocional e a responsabilidade do desenvolvimento de nossa mentalidade, se compreendermos que somos os fatores energizantes dentro de nossos corpos e que quando nos retiramos daqueles corpos eles se desintegram, talvez, então, tenhamos a pista para o que a Vida formadora do planeta possa estar fazendo, à medida que opera através de formas de toda espécie (continentes, civilizações, religiões, e organizações) nesta terra; para o que aconteceu na lua, que é agora uma forma em desintegração, para o que está acontecendo no sistema solar, e para o que acontecerá no sistema solar quando o Logos se retirar daquilo que, para Ele, não passa de uma manifestação transitória.
 
 
Façamos agora uma aplicação prática destes pensamentos. Estamos atravessando, atualmente, um período em que todas as formas de pensamento parecem estar se fragmentando, na qual a vida religiosa das pessoas não é mais o que era, na qual o dogma e toda espécie de doutrina estão sendo criticados. Muitas das velhas formas de pensamento científico estão também se desintegrando e as bases das velhas filosofias parecem estar abaladas. Nosso grupo caiu em um dos mais difíceis períodos da história do mundo, um período que se caracteriza pela fragmentação de nações, a destruição de velhas relações e laços, a ruptura aparentemente iminente da civilização. Precisamos encorajar-nos, lembrando que tudo isto está ocorrendo só porque a vida dentro daquelas formas está se tornando tão forte que as considera uma prisão e limitação; e devemos lembrar que este período de transição é o tempo de maior esperança que o homem já presenciou. Não há lugar para pessimismo e desespero, mas somente para o mais profundo otimismo. Hoje muitos estão perturbados e confusos porque as bases parecem estar abaladas, as estruturas da crença e do, pensamento religiosos, cuidadosamente apoiadas e profundamente amadas, e da descoberta filosófica, parecem encontrarem-se em perigo de desmoronamento; contudo, nossa ansiedade existe simplesmente porque temos nos envolvido demais com a forma e nos ocupado demais com nossa prisão, e se a ruptura manifestou-se é somente a fim de que a vida possa construir para si novas formas e, conseqüentemente, evoluir. O trabalho do destruidor é tanto trabalho de Deus quanto o do construtor, e o grande deus da destruição tem que esmagar e romper as formas, a fim de que o trabalho do construtor possa realizar-se e o espírito possa expressar-se de maneira mais adequada.
 
 
 
Para muitos de nós estas ideias parecem novelas fantásticas, insustentáveis. Contudo, mesmo que sejam somente hipóteses, podem demonstrar ser interessantes e dar-nos uma possível pista para o mistério. Vemos civilizações destruídas, vemos estruturas religiosas cambaleantes, vemos filosofias atacadas com êxito, vemos bases da ciência materialista abaladas. Afinal de contas, que são as civilizações? Que são as religiões? Que são as grandes raças? Simplesmente as formas pelas quais a grande Vida tríplice central, Que forma nosso planeta, procura expressar-se. Do mesmo modo que nos expressamos por meio de uma natureza física, emocional e mental, Ela também Se expressa pela totalidade dos reinos da natureza, pelas nações, raças, religiões, ciências e filosofias que existem atualmente. A medida que Sua Vida pulsa em cada departamento do Seu Ser, nós, como células e átomos dentro daquela manifestação maior, seguimos cada transição e somos levados de uma etapa para outra. À medida que o tempo passar e nossa consciência se expandir, penetraremos mais e mais no conhecimento do Seu plano, tal como Ele o elabora, e estaremos finalmente em condições de colaborar com Ele em Seu objetivo essencial.
 
 
Resumindo o pensamento central desta palestra: procuremos compreender que não existe tal coisa como matéria inorgânica, mas que cada átomo é uma vida. Conscientizemo-nos de que todas as formas são formas vivas e que cada uma nada mais é do que o veículo de expressão para alguma entidade existente. Procuremos compreender que isto é igualmente verdadeiro em relação à reunião de todas as formas. Assim, teremos a pista para nós próprios e talvez a pista para o mistério do sistema solar.

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