quarta-feira, 15 de julho de 2015

A EVOLUÇÃO DA CONSCIÊNCIA


Na última semana nós estudamos, muito inadequadamente, a evolução do homem, o pensador, o morador dos corpos, aquele que os usa durante o ciclo da evolução. Vimos que ele era a síntese das evoluções que o precederam. Preparamos o estudo daquela evolução em duas palestras anteriores, nas quais primeiro consideramos a substância, ou matéria atómica anterior ao seu desenvolvimento até uma forma, ou o minúsculo átomo antes de ser incorporado num veículo de qualquer espécie. A seguir, estudamos a construção das formas por meio da grande lei de atração, a qual reuniu os átomos, fazendo-os vibrar em uníssono, produzindo assim uma forma, ou uma reunião de átomos. Chegamos ao reconhecimento de que, na substância atómica, tínhamos um aspecto da Cabeça de Deus, ou da Divindade, e da Força ou energia central do sistema solar, manifestando-se sob o aspecto da inteligência, e vimos que no aspecto formal da natureza manifestava-se uma outra qualidade da Divindade, a do amor ou atração, a força de coesão que mantém a forma unida. A seguir estudamos o ser humano, ou homem, e anotamos como os três aspectos divinos se reuniram nele; e reconhecemos o homem como uma vontade central se manifestando por meio de uma forma composta de átomos e apresentando as três qualidades de Deus, a da inteligência, a da sabedoria-amor e a da força de vontade.
 
 
Hoje sairemos do aspecto da manifestação da matéria com o qual temos lidado nas palestras anteriores, e vamos estudar a consciência dentro da forma. Vimos que o átomo pode ser considerado como a vida central, manifestando-se por meio de uma forma esferoidal e apresentando a qualidade da mente; mas o átomo humano pode também ser considerado como uma vida central positiva, utilizando uma forma e apresentando as diferentes qualidades que enumeramos; e a seguir dissemos que, se estivéssemos certos em nossa hipótese sobre o átomo, e se estivéssemos certos ao considerar o ser humano como um átomo, então poderíamos estender esta concepção primária ao planeta e dizer que dentro do átomo planetário há uma grande Vida se manifestando através de uma forma e mostrando qualidades específicas enquanto elabora um objetivo específico; e estender este mesmo conceito também à grande esfera solar e à grande Divindade Que o habita.
 
Tomemos a questão da própria consciência e estudemos um pouco o problema, ocupando-nos com a reação da vida dentro da forma. Se eu puder deste modo dizer-lhes em linhas gerais o que foi mencionado antes, poderei colocar outra pedra na estrutura que estou tentando construir.
 
 
A palavra consciência vem de duas palavras latinas: com (com); escio (saber) e literalmente significa "aquilo com o qual sabemos". Se tomarmos um dicionário, encontraremos a seguinte definição: "O estado de estar alerta" ou a condição de percepção, a habilidade de reagir a estímulos, a faculdade de reconhecer contatos e o poder de sincronizar a vibração. Todas estas expressões poderiam ser incluídas em qualquer definição de consciência, mas a que eu quero enfatizar esta noite é a que é dada no Standard Dictionary e que já mencionei antes. O pensador comum que manuseia a maioria dos livros que discutem este assunto está propenso a considerá-los muito confusos, porque eles dividem a consciência e o estado de estar alerta em numerosas divisões e subdivisões até que se estabelece um estado de completa perplexidade. Esta noite só mencionaremos três tipos de consciência, que poderíamos assim enumerar: Consciência absoluta, consciência universal e consciência individual, e destas três só se pode, realmente, definir duas com alguma clareza.
 
 
A consciência absoluta é praticamente impossível de ser reconhecida pelo pensador comum. Foi definida em um livro como: "Aquela consciência na qual tudo existe, tanto o possível quanto o real", e diz respeito a tudo que possa ser concebido como tendo acontecido, como ocorrendo ou por acontecer. Possivelmente, esta é a consciência absoluta, e do ponto de vista da consciência humana, ela é a consciência de Deus, Que contém Nele o passado, o presente e o futuro. Que é, então, a consciência universal? Poderia ser definida como a consciência, pensando-se em tempo e espaço, consciência com a ideia de locação e sucessão nela incluída ou, na verdade, consciência grupai, o próprio grupo formando uma unidade maior ou menor. Finalmente, a consciência individual pode ser definida como a parcela da consciência universal que uma unidade separada pode contatar e conceber por si mesma.
 
 
Para compreender estas expressões vagas — consciência absoluta, universal e individual — seria útil se eu tentasse ilustrar. Poderia ser feito como se segue: Em nossas palestras anteriores vimos que devemos considerar o átomo no corpo humano como uma pequena entidade, uma vida minúscula, inteligente, e uma esfera microscópica, ativa. Tomando aquela pequena célula como nosso ponto de partida, podemos obter um conceito do que são estes três tipos de consciência, considerando-as do ponto de vista do átomo e do homem. A consciência individual, para o átomo minúsculo em um corpo humano, seria sua própria vida vibratória, sua própria atividade interna e tudo que especificamente lhe diga respeito. A consciência universal, para a pequena célula, poderia ser considerada como a consciência de todo o corpo físico, considerando-o como a unidade que incorpora o átomo. A consciência absoluta, para o átomo, poderia ser considerada como a consciência do homem que pensa, o qual dá energia ao corpo. Isto seria, para o átomo, algo tão remoto, do ponto de vista de sua própria vida interior, que seria praticamente inconcebível e desconhecido. Contudo, ela projeta na linha de sua vontade a forma e o átomo dentro da forma, e tudo que lhes diz respeito. Esta ideia só tem de ser ampliada até o homem, considerado como um átomo ou célula dentro do corpo de uma grande Entidade, e pode-se elaborar linhas semelhantes segundo esta concepção de uma consciência tríplice. Seria prudente agora se considerássemos assuntos mais práticos do que a consciência absoluta.
 
 

A ciência ocidental está gradualmente chegando à conclusão da filosofia esotérica do Oriente, de que a consciência deve ser atribuída não só ao animal e ao ser humano, mas que se deve também reconhecer que ela se estende através do reino vegetal até o mineral, e que a auto-consciência deve ser considerada como a consumação do crescimento evolutivo da consciência nos três reinos inferiores. Não é possível, no curto espaço de tempo que tenho à minha disposição, entrar no estudo fascinante do desenvolvimento da consciência no reino animal, no reino vegetal, e seu aparecimento também no reino mineral; descobriríamos, se o fizéssemos, que até os minerais apresentam sintomas de consciência, de reação a estímulos, que eles apresentam sinais de cansaço e que é possível envenenar um minera! e assassiná-lo, do mesmo modo que se pode assassinar um ser humano. O fato de que as flores possuem consciência está sendo mais prontamente reconhecido, e artigos de profundo interesse têm sido publicados sobre a consciência das plantas, abrindo ampla linha de pensamento. Vimos que na matéria atómica a única coisa que lhe podemos atribuir com segurança é que ela mostra inteligência, o poder de selecionar e de discriminar. Esta é a caraterística predominante da consciência, quando se manifesta no reino mineral. No reino vegetal aparece outra qualidade, a da sensação ou sentimento de natureza rudimentar. Ele responde de maneira diferente do mineral. No reino animal aparece uma terceira reação; não só o animal mostra sinais de sensação muito aumentados em relação ao reino vegetal, como também mostra sinais de intelecto, ou mente em embrião. O instinto é uma faculdade reconhecida em todas as unidades animais, e a palavra vem da mesma raiz que a palavra "instigar". Quando o poder de instigar começa em qualquer forma animal, é sinal de que uma mentalidade embrionária começa a se manifestar. Em todos estes reinos temos diferentes graus e tipos de consciência se manifestando, enquanto no homem temos os primeiros sintomas de auto-consciência, ou a faculdade do homem pela qual ele se conscientiza de que é uma identidade separada, que é o impulso que habita o corpo e quem está no processo de se conscientizar por meio destes corpos. Há muito se ensina isto no Oriente e "a filosofia esotérica ensina que tudo vive e é consciente, mas que nem toda vida e consciência é semelhante à humana", e ela também enfatiza o fato de que "existem grandes intervalos entre a consciência do átomo e a da flor, entre a da flor e a do homem e entre a de um homem e um Deus". Como Browning disse: "No homem começa de novo uma tendência para Deus". Ele ainda não é um Deus, mas um Deus em formação; ele está elaborando a imagem de Deus, e um dia a produzirá perfeitamente.
 
 
É ele que está procurando demonstrar a vida tríplice, divina e subjetiva, por meio da objetiva.
 
 
O método do desenvolvimento evolutivo da consciência em um ser humano nada mais é do que uma repetição, numa volta mais alta da aspirai, das duas etapas que notamos na evolução do átomo, a da energia atómica e a da coesão grupai. Atualmente podemos ver no mundo a família humana na era atómica se encaminhando para um objetivo ainda não alcançado, a etapa grupal.
 
 
Se existe uma coisa aparente para todos os que estamos de algum modo interessados na faculdade da percepção, e que estamos acostumados a prestar atenção ao que acontece à nossa volta, é a dos graus diferentes de mentalidade que encontramos em toda parte, e os diferentes tipos de consciência entre os homens. Encontramos pessoas alertas, vivas, conscientes de tudo o que está acontecendo, profundamente conscientes, respondendo às correntes de pensamento de várias espécies nos assuntos humanos e conscientes de toda espécie de contatos; a seguir encontramos pessoas que parecem estar adormecidas; há, aparentemente, tão pouca coisa que as interessa; parecem estar totalmente alheias ao contato; estão ainda num estágio de inércia e não são capazes de responder a muitos estímulos exteriores; não estão mentalmente vivas. Nota-se isto também nas crianças; algumas respondem tão depressa, enquanto chamamos outras de retardadas. Realmente, uma não é essencialmente mais retardada que a outra; é simplesmente devido à etapa de evolução interior da criança, a suas encarnações mais frequentes e ao período maior que tem utilizado para se tornar consciente.
 
 
Tomemos agora as duas etapas, a atómica e a da forma, e vejamos como se desenvolve a consciência do ser humano, tendo sempre em mente que no átomo humano está armazenado tudo o que foi adquirido nas etapas anteriores dos três reinos inferiores da natureza. O homem é o ganhador devido ao amplo processo evolutivo que existe por trás dele. Ele começa com tudo, que foi adquirido, latente dentro de si. Ele é auto-consciente e tem, diante de si, um objetivo definido, a conquista da consciência grupai. Para o átomo da substância a meta havia sido a conquista da auto-consciência. Para o ser humano o objetivo é uma Consciência maior e um alcance mais amplo da percepção.
 
 
A etapa atómica, a qual estamos considerando agora, é particularmente interessante para nós, porque é a etapa em que a maioria dos membros da família humana se encontra. Nela passamos pelo período (muito necessário) de auto-centraliza-ção, aquele ciclo no qual o homem está primordialmente pré-ocupado com seus próprios assuntos, com aquilo que particularmente o interessa, e vive sua própria vida intensa, interna, vibrante. Durante um longo período anterior a este, e talvez na etapa atual (porque eu não acredito que muitos de nós sentir-se-iam insultados se não fôssemos considerados como tendo alcançado a perfeição ou atingido o objetivo) a maioria dos seres humanos é intensamente egoísta e só mentalmen^interes-sada nas coisas que acontecem no mundo e, então, (Wovavel-mete porque nossos corações são tocados e não gostamos de nos sentir desconfortáveis, ou nos interessamos porque está na moda; e contudo, apesar desta atitude mental, toda nossa atenção está voltada para as coisas que dizem respeito à nossa vida individual. Estamos na etapa atómica, intensamente ativa em relação aos nossos problemas pessoais. Olhem as aglomerações nas ruas de qualquer cidade grande e verão, em toda parte, pessoas na era atómica preocupadas só com elas próprias, centralizadas em seus negócios, absortas em obter seu próprio prazer, desejosas de diversão e só incidentalmente preocupadas com os problemas relacionados com o grupo. Esta é uma etapa protetora e necessária e de valor essencial a cada unidade da família humana. Esta conscientização, portanto, nos levará, seguramente, a ser pacientes com nossos irmãos e irmãs que tão frequentemente poderão nos irritar.
 
 
Quais são os dois fatores pêlos quais evoluímos para dentro e para fora da etapa atómica? No Oriente , há muitas eras, o método de evolução tem sido duplo. Foi ensinado ao homem que ele evolue e se torna consciente, primeiramente por meio dos cinco sentidos, e mais tarde pelo desenvolvimnto da faculdade do discernimento, unida à despaixão. Aqui no Ocidente primeiro enfatizamos os cinco sentidos e não ensinamos o discernimento que é tão essencial. Se observarmos o desenvolvimento de uma criança notaremos, por exemplo, que o bebé normalmente desenvolve os cinco sentidos em uma sequência ordenada. O primeiro sentido que ela desenvolve é a audição; ela moverá a cabeça quando ouvir um barulho. O próximo sentido será o tato e ela começa a sentir com suas mãozinhas. O terceiro sentido que parece despertar é o da visão. Não quero dizer com isto que um bebé não enxergue, ou que nasça cego como um gatinho, mas passam-se várias semanas até que um bebé possa ver conscientemente e reconhecer pelo olhar. A faculdade está lá, mas não há conscientização. O mesmo acontece com as expansões graduais de consciência e percepções que estão à nossa frente hoje. Nestes três sentidos principais, audição, tato e visão, temos uma analogia muito interessante e uma ligação com a tripla manifestação da Divindade, o ser, o não-ser, e a relação intermediária. Ocultamente, o ser ouve e responde à vibração, conscientizando-se desse modo. Ele se torna consciente do não-ser, e de sua tangibilidade, pelo tato, mas é somente quando a visão ou reconhecimento consciente atua, que a relação'entre os dois se estabelece. Mais dois sentidos são utilizados pelo ser ao fazer seus contatos, o do paladar e o do olfato, mas eles não são tão essenciais ao desenvolvimento da consciência inteligente quanto os outros três.
 
 
Por meio destes cinco sentidos fazemos qualquer contato possível no plano físico; por intermédio dele aprendemos, crescemos, tornamo-nos conscientes e nos desenvolvemos; por meio deles evoluem os grandes instintos; eles são os grandes sentidos protetores, que nos habilitam não só ao contato com nosso meio-ambiente, mas também nos protegem deste meio-ambiente. Então, tendo aprendido a ser unidades inteligentes por meio destes cinco sentidos e tendo, por meio deles, expandido nossa consciência, atingimos uma certa crise e outro fator aparece, o do discernimento inteligente. Aqui estou eu me referindo ao discernimento que uma unidade autoconsciente demonstra. Refiro-me àquela escolha consciente que você e eu evidenciamos, e que seremos forçados a utilizar à medida que a força da evolução nos leve ao ponto onde aprenderemos a distinguir entre o ser e o não-ser, entre o real e o irreal, entre a vida dentro da forma e a forma que ela usa, entre o conhecedor e o que é conhecido. Aqui temos todo o objeto da evolução, a conquista da consciência do ser real por meio do não-ser.
 
 
Passamos por um longo período, ou ciclo, de muitas vidas, no qual nos identificamos com a forma e de tal maneira nos identificamos com o não-ser que não percebemos qualquer diferença, estando inteiramente ocupados com as coisas transitórias e temporárias. É esta identificação com o não-ser que leva a toda dor, insatisfação e tristeza no mundo e, contudo, devemos lembrar-nos de que através desta reação do ser ao não-ser, inevitavelmente aprendemos e, finalmente, nos livramos do transitório e do irreal. Este ciclo de identificação com o irreal é paralelo à etapa da consciência individual. Como o átomo da substância precisa de algum modo encontrar seu caminho para alguma forma e adicionar sua quota de vitalidade a uma unidade maior, da mesma maneira, pelo desenvolvimento evolutivo da consciência, o átomo humano deve alcançar um ponto onde ele reconheça seu lugar num todo maior e assuma sua responsabilidade na atividade grupai. Esta é a etapa da qual um grande número da família humana está agora se aproximando. Os homens estão se conscientizando, como nunca, da diferença entre o real e o irreal, entre o permanente e o transitório; através da dor e do sofrimento estão despertando para o reconheci-mnto de que o não-ser não é o bastante e estão pesquisando tanto do lado de fora quanto do lado de dentro, em busca daquilo que seja mais adequado às suas necessidades. Os homens estão procurando compreender a si mesmos, encontrar o Reino de Deus dentro de si e, pela Ciência Mental, pelo Pensamento Novo e pelo estudo da psicologia, atingirão certos graus de conscientização de valor incalculável para a raça humana. Portanto, deve-se encontrar indicação de que a etapa da forma está-se aproximando rapidamente e que os homens estão saindo do período atómico para algo muito melhor e maior. O homem está começando a sentir a vibração daquela Vida maior dentro de Cujo corpo ele nada mais é do que um átomo e está começando a responder conscientemente, em escala pequena, ao grande chamado e a encontrar possíveis canais pêlos quais ele possa entender a Vida maior, que ele sente, mas contudo, ainda não conhece. Se persistir nisto, ele encontrará seu grupo e trocará, então, de centro. Ele não ficará mais limitado por sua própria pequena parede atómica, mas a ultrapassará e tornar-se-á, por sua vez, uma parte ativa, consciente, inteligente, do todo maior.
 
 
E como se efetua esta mudança? A etapa atómica desenvolveu-se através dos cinco sentidos e da utilização da faculdade da discriminação. O estágio no qual o homem desperta para a conscientização grupai e se torna um participante consciente nas atividades do grupo se efetua de duas maneiras: pela meditação e por uma série de iniciações. Quando emprego a palavra "meditação" não quero dizer o que talvez habitualmente se compreenda por aquela palavra, um estado mental negativo, receptivo ou um estado de transe. Há muita falsa interpretação, hoje em dia, em relação ao que a meditação realmente seja e há muito da chamada meditação que foi descrita por alguém, não há muito tempo, como "Eu fecho meus olhos, abro minha boca e espero que algo aconteça". A verdadeira meditação é algo que requer a mais intensa aplicação da mente, o máximo controle de pensamento e uma atitude nem negativa nem positiva, mas um perfeito equilíbrio entre as duas. Nas Escrituras Orientais, o homem que tenta a meditação e atinge seus resultados é descrito assim — e da consideração destas palavras podemos obter muita ajuda e esclarecimento: "O Maha logue, o grande asceta, em quem está centralizada a mais elevada perfeição de penitência austera e da meditação abstraia, pela qual se atinge os mais ilimitados poderes, operam-se maravilhas e milagres, adquire-se o mais elevado conhecimento espiritual e se atinge finalmente a união com o grande Espírito do universo". Aqui, esta união com a vida grupai é considerada como o resultado da meditação e não há outro método para consegui-la.
 
 
A meditação verdadeira (cujas etapas preliminares são a concentração e aplicação de qualquer particular linha de pensamento) diferirá para pessoas diferentes e tipos diferentes. O homem religioso, o místico, centralizará sua atenção na vida dentro da forma, em Deus, em Cristo, ou naquilo que para ele personifica o ideal. O homem de negócios ou o profissional, que durante suas horas de trabalho está claramente centralizado no assunto que tem em mãos e que mantém sua atenção fixa no problema particular que tem que resolver, está aprendendo a meditar. Mais tarde, quando chegar ao aspecto mais espiritual da meditação, ele descobrirá que já venceu a parte mais árdua do caminho. A pessoa que lê um livro difícil e lê com toda a força e poder de seu cérebro, alcançando o que está por trás da palavra escrita, pode estar meditando tanto quanto lhe seja possível meditar neste período. Digo isto para nosso encorajamento, porque vivemos em um ciclo onde se podem encontrar livros sobre meditação. Todos eles contêm algum aspecto da verdade e podem estar fazendo muito bem, mas podem não conter o melhor para cada indivíduo. Precisamos encontrar nosso próprio modo de concentração, definir nosso próprio método de aproximação àquilo que existe no íntimo, e estudar por nós mesmos esta questão da meditação.
 
 
Gostaria aqui de pronunciar uma palavra de advertência. Evitem aquelas escolas e métodos que combinam formas de exercícios de respiração com meditação, que ensinam tipos diferentes de posturas físicas e ensinam seus estudantes a centralizar sua atenção nos órgãos físicos ou centros. Os que seguem estes métodos estão caminhando para o desastre e, além dos perigos físicos envolvidos, do risco da loucura e de doenças nervosas, eles se ocupam com a forma, que é limitação, e não com o espírito, que é vida. O objetivo não será alcançado deste modo. Para a maioria de nós a concentração intelectual que resulta no controle da mente e na habilidade de pensar claramente e pensar somente o que desejamos pensar, deve preceder a verdadeira meditação, algo sobre o que, raras pessoas sabem. Esta meditação verdadeira, sobre a qual é impossível expandir-me aqui, resultará numa mudança de polarização definida, abrirá ao homem experiências ainda não sonhadas, revelará contatos que ele ainda não compreende e o habilitará a encontrar seu lugar no grupo. Ele não estará mais confinado pelo muro de sua vida pessoal, mas começará a incorporar aquela vida ao todo maior. Ele não estará mais ocupado com coisas de interesse egoísta, mas dará atenção aos problemas do grupo. Ele não mais usará do tempo para a cultura de sua própria identidade, mas procurará entender aquela Identidade maior da qual faz parte. Isto é realmente o que todos os homens adiantados estão mais ou menos começando a fazer. Apesar do homem comum conscientizar isto muito pouco, grandes pensadores, como Edison e outros, chegam à solução de seus problemas pela linha da meditação. Pela concentração contínua, pela recordação constante e pela aplicação intensiva à linha de pensamento que os interessa, eles produzem resultados, chegam aos reservatórios interiores da inspiração e poder e trazem dos níveis superiores do plano mental, resultados que beneficiam o grupo. Quando nós próprios tivermos feito algum trabalho ao longo da linha de meditação, quando estivermos cultivando o interesse grupai e não o auto-interesse, quando tivermos corpos físicos fortes e limpos e corpos emocionais controlados e não tomados pelo desejo, quando tivermos corpos mentais que sejam nossos instrumentos e não nossos donos, aí então saberemos o verdadeiro significado da meditação.
 
 
Quando alguém entra em contato, pela meditação, com o grupo a que pertence, torna-se cada vez mais consciente do seu grupo e chega a uma posição de receber o que chamamos de série de iniciações. Estas iniciações são simplesmente expansões de consciência, efetuadas com a ajuda Daqueles que já atingiram o objetivo, Que já Se identificaram com o grupo e que são uma parte consciente do corpo do Homem Celestial. Com Sua assistência e ajuda, o homem despertará gradualmente para a conscientização Deles.
 
 
Há muito interesse em toda parte, hoje, pelo assunto da iniciação, e uma ênfase exagerada foi dada ao seu aspecto cerimonial. Precisamos lembrar-nos que cada grande desabrochar da consciência é uma iniciação. Cada passo a frente no caminho da percepção é uma indicação. Quando um átomo de substância transformou-se em uma forma, isso foi uma iniciação para este átomo. Ele percebeu outro tipo de força e o alcance do seu contato tornou-se mais amplo. Quando a consciência do reino vegetal fundiu-se com a do reino animal e a vida passou do reino inferior para o superior, foi uma iniciação. Quando a consciência do animal expandiu-se para a do ser humano, outra grande iniciação ocorreu. Todos os quatro reinos foram penetrados por meio de uma iniciação ou expansão de consciência. O quinto reino, ou espiritual, encontra-se agora à frente da família humana e se penetra nele por meio de uma certa iniciação, como se pode ver por aqueles que inteligentemente lêem seu Novo Testamento. Em todos estes casos estas iniciações foram efetuadas pela ajuda Daqueles que já conhecem. Assim, temos no esquema evolutivo, não grandes lacunas entre um reino e outro, e entre um estado de percepção e outro, mas um gradual desenvolvimento de consciência, no qual cada um de nós teve e terá sua participação. Se pudermos lembrar desta universalidade de iniciação, teremos um ponto de vista melhor dimensionado em relação a ela. Cada vez que nos tornarmos mais conscientes de nosso meio-ambiente e nosso conteúdo mental for aumentado, será uma iniciação em escala reduzida. Cada vez que nosso horizonte se alarga e pensamos e vemos mais amplamente, é uma iniciação e aqui está, para nós, o valor da própria vida e a grandeza de nossa oportunidade.
 
 
Desejo aqui enfatizar um ponto: cada iniciação tem que ser auto-iniciada. Aquela etapa final, quando uma ajuda definida nos é trazida de fontes externas, não é atingida porque haja grandes Seres ansiosos por nos ajudar, Que vêm até nós e tentam nos elevar. Ela vem a nós porque fizemos o trabalho necessário, e nada pode impedi-la. É nosso direito. Os que conquistaram podem ajudar-nos e de fato o fazem, mas Suas mãos estarão atadas até que tenhamos feito nossa parte do empreendimento. Portanto, nada que façamos para aumentar nossa utilidade no mundo, nenhuma iniciativa que tomemos para construir corpos melhores, nenhum esforço para adquirir autocontrole e equipar nosso corpo mental, estará jamais perdido; é algo que estamos acrescentando ao total que acumulamos, o qual, um dia, nos trará uma grande revelação, e o esforço que fizermos, cada hora, cada dia, aumentará o fluxo de energia que nos levará ao portal da iniciação. O significado da palavra "iniciação" é "entrar". Significa simplesmente que o iniciado é aquele que deu os primeiros passos para o reino espiritual e obteve a primeira série de revelações espirituais, cada uma sendo uma chave para uma revelação ainda maior.

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